Alexandre Marchetti

A turma de Pânico na TV: irreverência e muita maldade em fórmula de sucesso testada no rádio

Há tempos, a televisão não vê uma safra de programas humorísticos tão cheia de agilidade e criatividade. A renovação
acontece em várias frentes. Na Rede TV!, o sucesso de Pânico na TV atiça os ânimos, já que o humorístico concorre no fim das tardes de domingo com as feras da audiência Fausto Silva e Gugu Liberato. No Fantástico, da Rede Globo, a reinvenção do riso é no recém-estreado quadro As 50 leis do amor, com Diogo Vilela, Débora Bloch e Andréa Beltrão. Em abril, também entraram na grade da emissora os seriados A diarista, comandado por Cláudia Rodrigues, e Sob nova direção, com a hilariante dupla Heloísa Perissé e Ingrid Guimarães. Para completar, no canal pago People & Arts a série Elas não são loiras vem arrebatando os espectadores, que de cara se ligam nas delirantes armações de três atrizes negras nas ruas de Londres.

Inovação e ousadia, porém, acontecem em As 50 leis do amor, que brinca com a metalinguagem, pois num momento os atores são personagens, em outro estão nos bastidores ou camarins interpretando a si próprios. A proposta só funciona se o telespectador topar participar do jogo de quem-é-quem. Segundo o diretor José Alvarenga Jr., o público está aceitando. “As 50 leis é um programa que se constrói o tempo todo.” Em A diarista, o que poderia ter resultado numa lamentável caricatura da empregada doméstica ganhou formato híbrido e modelo clássico, como atesta o diretor Alvarenga Jr. Com textos de Aloísio de Abreu e Bruno Mazzeo, o seriado não idiotiza a diarista Marinete (Cláudia Rodrigues). A audiência tem respondido com a média de 28 pontos num horário cruel, quase às 23h das terças-feiras.

João Miguel Jr/Tv Globo

Heloisa e Ingrid: comédia de costumes

Há um condimento rarefeito no humor atual: irreverência. É esta característica que interessa ao público, que agora se diverte com as maluquices e maldades da turma do Pânico na TV, que tem garantido oito pontos de audiência, ótima marca para o horário dominical. Reunindo muita descontração e cara-de-pau, o grupo segue uma fórmula prévia e longamente testada na paulistana rádio Jovem Pan, na qual estão há dez anos, prestigiados por 17 milhões de ouvintes de todo o País. Cerca de 15 pessoas participam das reuniões que esquematizam o programa, mas a tropa de choque é formada por seis integrantes, conta o diretor Ricardo de Barros.

João Miguel Jr/Tv Globo

Claudia (à dir.): sem cair na caricatura da doméstica

Premiado com o troféu Revelação, da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), de 2003, Pânico na TV tem vários truques, como alfinetar as concorrentes contando os finais dos filmes que serão exibidos no mesmo dia, na Globo e no SBT. Mas divertido de verdade é o Repórter Vesgo, encarnado por Rodrigo Scarpa. Ele é um jornalista cara-de-pau o suficiente para fazer perguntas ou comentários mais objetivos e cruéis. A modelo e ex-Casa dos artistas Mariana Kupfer, por exemplo, ouviu dele: “O que eu admiro em você é a persistência. Já tentou ser atriz, apresentadora, cantora… Não conseguiu nada, mas continua tentando.” Ou então Rita Cadilac, que teve seu derrière devidamente cheirado – e desaprovado – pelo repórter impaciente. Em breve, uma outra atração entrará no ar. É o Helicóptero Urubu Um, que chega ao local da tragédia antes de ela acontecer, numa sátira aos programas que exploram desgraças. “Trata-se de um humor sem filtro, imprevisível, feito por uma equipe muito azeitada”, analisa Barros.

Com uma receita completamente diferente, Sob nova direção, exibido após o Fantástico, lembra as sitcons americanas, embora um dos diretores, Roberto Farias, discorde. “Nossos humoristas são criativos e não estão perseguindo modelos”, diz ele. As agruras de Belinha (Heloísa Perissé) e Pit (Ingrid Guimarães), mulheres modernas que não dependem de chancela masculina para sobreviver, são narradas em compasso de comédia de costumes com princípio, meio e fim.

A especialista em pesquisa de qualidade sobre programas de televisão, a psicóloga paulistana e diretora da ComSenso Agência de Estudos do Comportamento, Suzy Zveibil Cortoni, já detectou o porquê da busca de qualidade no humor televisivo. “Há certo cansaço da caricatura, do apelo sexual gratuito. O desejo pelo humor não mudou, o que mudou é o tipo de humor desejado.” Inverter a ordem dos fatores pode alterar, para melhor, o produto. É o caso de Elas não são loiras, que vai ao ar no canal pago People & Arts, às 22h, nas segundas-feiras e aos sábados, com reprises nas terças-feiras e domingos. Estrelado pelas atrizes negras Jocelyn Lee Esien, Ninia Benjamin e Tameka Empson, o programa de certa forma recicla a receita das pegadinhas. Só que as vítimas são as próprias atrizes, que se esmeram, ainda mais levando em conta a sisudez do londrino.

Divulgação

Jocelyn, Ninia e Tameka: armações delirantes nas ruas de Londres

São situações imaginadas para ruas ou recintos públicos, como a de Tameka entrando numa loja de materiais elétricos dizendo-se virgem e perguntando ao vendedor atônito sobre algo que pudesse dar choque nos seus mamilos. Não raro, ela dispara perguntas totalmente incômodas a alguma transeunte:
“Com licença, a senhora está
ovulando?” Ninia adora interpretar uma aspirante a Tina Turner e uma dançarina do ventre em repentina nudez balofa. E Jocelyn leva as pessoas a gargalhadas nervosas, quando encarna uma rapper que só utiliza rimas e versos amalucados para se comunicar. Como se vê, de acordo com o folclore, de loiras elas não têm nada mesmo