Pouco conhecido no Brasil, o escritor tcheco Bohumil Hrabal há tempos é cultuado como um dos ícones de uma geração. Mesmo antes de sua morte, em 1997, o bar frequentado por ele em Praga – O Tigre Dourado – atraía visitantes ilustres, como o ex-presidente americano Bill Clinton. No final dos anos 60, sua obra Trens estreitamente vigiados chegou às telas e levou o Oscar de melhor filme em língua estrangeira. Igual à fita, o delicioso romance Eu servi o rei da Inglaterra (Companhia das Letras, 218 págs., R$ 29) tem como cenário a história da antiga Tchecoslováquia, do período anterior à ocupação nazista até a chegada dos comunistas ao poder. A referência histórica não torna a narrativa enfadonha. Ao  contrário, acelera seu ritmo. Dono de um talento ímpar para descrever o homem comum, Hrabal aproveita a realidade tumultuada para nela realçar as contradições de seus próprios personagens.

Eu servi o rei da Inglaterra narra a saga do pequeno Dittie, que deixa sua aldeia para ser ajudante de garçom no Hotel Praga Dourada, na capital. Na bagagem, leva sonhos de alcançar respeito e estatura. Embora ingênuo, não demora a ser escalado para acalmar as garotas de programa que atendiam aos clientes sexagenários do hotel. É o começo de uma série de passagens eróticas, que também marcam seu casamento com uma professora de ginástica, nazista de carteirinha e chave das reviravoltas da sua vida. No geral, são personagens outsiders descritos dentro de um universo bastante peculiar