Duas semanas depois de um dos acidentes ecológicos mais graves da história do País, o quadro é tão nebuloso quanto a mancha escura que vazou do reservatório de rejeitos químicos do grupo Cataguazes, em Minas Gerais. A mancha poluiu os rios Pomba e Paraíba do Sul, com pesados prejuízos para o norte e noroeste do Rio de Janeiro, e já chegou às praias do Espírito Santo. A tragédia ainda promete novas vítimas, mas ninguém quer assumir a responsabilidade. Os governos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro trocam acusações, as instituições ambientais não se entendem e uma multa foi estipulada e, logo depois, anulada. De concreto, só o prejuízo do comércio, da população de oito municípios que continuam sem abastecimento de água e dos peixeiros, que calculam estar perdendo R$ 300 por dia com a proibição de trabalho, por três meses, dos seis mil pescadores cadastrados. Quanto às plantações, não há prognóstico de recuperação, já que a terra está coberta por lama preta endurecida de rejeitos tóxicos.

O impacto econômico não foi calculado, mas a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) anunciou que 21% das indústrias que recebem água dos rios contaminados paralisaram total ou parcialmente suas atividades. O secretário de Meio Ambiente do Espírito Santo, Luiz Fernando Schettino, disse que a contaminação das praias capixabas reduziu pela metade o número de turistas com reserva para a Semana Santa. Enquanto isso, a governadora carioca Rosinha Matheus (PSB) responsabiliza o governo mineiro de Aécio Neves (PSDB) de não fiscalizar a empresa causadora da tragédia. “Não vou admitir uso político do episódio”, diz Neves. Os deputados do Rio realizaram uma audiência pública exigindo o ressarcimento dos prejuízos. O presidente da Fundação do Meio Ambiente (Feam), Ilmar Bastos Santos, admitiu não estar preparado para lidar com episódios tão
sérios. “Temos apenas 61 fiscais”, lamentou.

Para garantir o pagamento das indenizações, a Justiça Federal de Campos decretou a indisponibilidade dos bens das empresas e de seis executivos do grupo mineiro, que engloba a Cataguazes Papel e Celulose, a Florestal Cataguazes e a Iberpar Empreendimentos e Participações. Embora tenha sido decretada a prisão de dois funcionários, até agora só um foi para a cadeia, o diretor administrativo Félix Santana, espanhol naturalizado com seis meses de empresa. Preso em Campos (RJ), ele foi indiciado pela Polícia Federal em seis artigos da Lei de Crimes Ambientais. João Gregório do Bem, um dos donos, continua foragido. Os advogados do grupo anunciaram que arcariam com os prejuízos, mas não assumiriam as responsabilidades criminais.

A concessionária Águas do Paraíba voltou a captar água dos rios Pomba e Muriaé. A expectativa era reiniciar o abastecimento se o resultado dos testes na água tratada, feitos por laboratórios independentes, derem sinal verde. Depois disso, será regularizado o sistema de abastecimento dos municípios atingidos. Seria uma ótima notícia, não fosse uma nova ameaça, dessa vez envolvendo a barragem da Companhia Mercantil e Industrial Ingá, em Itaguaí. Parte dos 50 milhões de litros de água contaminada por metais pesados da empresa vazou para os manguezais da baía de Sepetiba. É mais uma desgraça ecológica que poderia ter sido evitada.