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MÃE DE DEUS
Cena do filme “Maria, Mãe de Cristo”: como
Jesus foi salvo da matança dos inocentes

Entre os filmes mais vistos do cinema, o épico bíblico “Os Dez Mandamentos”, sobre a fuga do povo judeu do Egito, ganhou sete Oscars, inclusive numa área na época ainda incipiente: a dos efeitos especiais. Para criar tempestades de areia foi usada uma esquadrilha de aviões da força aérea egípcia. Mais de um milhão de litros de água foram derramados em um reservatório na simulação da travessia do Mar Vermelho por Moisés, momento antológico do enredo de quatro horas. Como hoje a fúria da natureza e as reconstituições históricas são mais facilmente criadas pela computação gráfica, Hollywood mira o passado e tenta dar nova vida aos espetaculares filmes religiosos: vem aí um dilúvio de histórias sagradas.

O primeiro entre os blockbusters bíblicos já em produção é “Noé”, de Darren Aronofsky, que trata justamente das chuvas torrenciais que levaram o pastor do título, papel de Russell Crowe, a criar uma arca e colocar nela um casal de cada espécie animal. A maior expectativa, contudo, está na reedição da história de Moisés preparada por dois pesos-pesados do cinema espetáculo: Steven Spielberg e Ridley Scott. Spielberg mantém sigilo sobre o seu filme, que vai se chamar “Deuses e Reis”, mas há comentários de que a trama será “um cruzamento de ‘Coração Valente’ e ‘O Resgate do Soldado Ryan’”. Scott adiantou à revista “Esquire” que o seu “Exodus” trará um perfil inédito do líder judeu: “Não estou interessado no lado heroico conhecido de todos, mas em sua relação com o faraó Ramsés II, não ensinada nem nas escolas.”

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Como a “Bíblia” é um livro aberto a muitas interpretações e permite polêmicas contextualizações históricas, divergências já são esperadas. É consenso, no entanto, que o retorno aos temas bíblicos coincide com um esgotamento do filão de super-heróis e de adaptações de videogames. Sem falar que as escrituras são de domínio público e fornecem enredos de graça para os estúdios. Produtor de “Golias”, Wyck Godfrey disse à revista “Hollywood Reporter” que tanto seu filme como os outros em pré-produção se beneficiam de formatos já existentes. “A história de Noé vai pela linha da aventura e as biografias de Moisés e Judas Macabeus, pelo lado da ação e violência”, diz. Ajustar esses enredos aos formatos populares não apresenta grandes dificuldades. Mas todo cuidado é pouco em relação à abordagem, ensinam os roteiristas do gênero. Stuart Hazeldine, autor do script de “Deuses e Reis”, aponta para o perigo das visões que extrapolam demais: “Prefiro ficar nos limites da teologia ortodoxa. Se você erra a mão, atrai o protesto como aconteceu com ‘A Última Tentação de Cristo’.”

O exemplo do filme de Martin Scorsese é perfeito. Ao avançar no tema tabu da vida sexual de Jesus, a produção caiu em desgraça e amargou uma bilheteria de apenas US$ 8 milhões. E isso é o que Hollywood mais teme. Feito ao custo de US$ 130 milhões, “Noé” vai ser submetido a uma comissão de teólogos e passará por sessões-teste antes do corte final. Esse risco não ameaça os títulos da produtora Origin Enterteinment, de orientação católica, que já deu sinal verde para “Maria, Mãe de Cristo”, com a atriz israelense Odeya Rush no papel principal. Escrita pelos mesmos autores de “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, a história está sendo vendida como uma “prequel” (preâmbulo) do polêmico filme que rendeu US$ 620 milhões e abordará a matança dos inocentes promovida por Herodes, papel de Ben Kingsley. No caminho oposto, o diretor holandês Paul Verhoeven já está preparado para ser apedrejado. Após quatro anos de tentativas, com o boom bíblico ele vai levar às telas o seu livro “Jesus de Nazaré”, resultado de discussões com o grupo de estudiosos da organização Jesus Seminar. Em sua versão, Cristo vai aparecer como uma espécie de terrorista durante o império romano. Baseado nos escritos do filósofo grego Celsus, ele vai mostrar também que Jesus não era filho de José, mas de um centurião. Mais blasfemo, impossível.  

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Fotos: divulgação; Gianni Dagli Orti/The Art Archive/Galleria Borghese Rome; François Duhamel


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