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CONTRASTE
Enquanto José Serra patina nas pesquisas e é rejeitado por quase metade do
eleitorado paulistano, Dilma Rousseff é aprovada por 62% da população brasileira

Em uma eleição acirrada, dois anos atrás, Dilma Rousseff e José Serra concorriam ao Palácio do Planalto. O duelo – voto a voto – foi resolvido apenas no segundo turno com a vitória da petista, que obteve nas urnas mais de 55,7 milhões de votos contra 43,7 milhões do tucano. Apesar da derrota, Serra saiu do ringue eleitoral de cabeça erguida com um capital político de quase 44% do eleitorado do País. Consolidava-se ali como principal líder da oposição e nome forte para um novo encontro com as urnas. Dilma, por sua vez, era tida no PT como uma solução tampão até o retorno de Lula. A reeleição era uma hipótese improvável ante o desafio de descolar sua imagem do antecessor e provar ter fôlego próprio. Passados apenas dois anos, os protagonistas daquele duelo se encontram em situações radicalmente opostas. Enquanto a presidenta Dilma Rousseff bate recordes de popularidade, consolida um estilo próprio de governar e se mantém incólume diante dos efeitos da crise econômica e do julgamento do mensalão, Serra, aos 70 anos, enxerga um horizonte político nebuloso. Ao contrário da ex-adversária nas urnas, o tucano bate recordes de rejeição pública e corre o risco de nem passar para o segundo turno na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o que precipitaria sua aposentadoria política.

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Os números eleitorais são reveladores da diferença dos destinos dos dois oponentes de outrora, Serra e Dilma. Na mais recente pesquisa do Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o percentual da população que avalia o governo Dilma em “ótimo” ou “bom” subiu, nos últimos três meses, de 56% para 62%. Não foram meses comuns. Ao contrário, o período foi marcado pelas greves do funcionalismo público, a CPI do Cachoeira e o julgamento do mensalão, tema mais lembrado pelos entrevistados. A condenação de caciques do PT ligados ao ex-presidente Lula também não colou na imagem de Dilma, tampouco os efeitos da crise econômica. Nesse caso, as medidas anunciadas pela presidenta, como a redução das tarifas de energia elétrica e da taxa de juros tiveram impacto positivo no imaginário da população. A aprovação relativa à maneira de a presidenta governar subiu de 73% para 77%, e a confiança em Dilma se manteve estável dentro da margem de erro, saindo de 74% para 73%. “Está havendo reação positiva em relação às medidas econômicas recém-tomadas pelo governo”, na opinião do gerente-executivo da CNI, Renato da Fonseca.

Houve apenas um dado desfavorável da pesquisa para a presidenta. Foi a queda da popularidade nos estratos extremos da sociedade, os mais ricos e os mais pobres. Esses índices chamaram a atenção no Palácio do Planalto. No universo de dois mil eleitores consultados em 143 municípios, a retração mais acentuada se deu entre aqueles com renda familiar superior a dez salários mínimos, de 16 pontos percentuais. Entre aqueles com renda inferior a um salário mínimo, a queda foi de sete pontos. Para o cientista político Murilo Aragão, da consultoria Arko Advice, esse resultado é consequência da desaceleração econômica que começou a ser sentida nas camadas de renda mais baixa a partir de agosto. Mas essa constatação, embora tenha acendido o sinal de alerta no governo, não foi suficiente para abalar a alta na popularidade de Dilma Rousseff.

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Como dois lados de uma mesma moeda, Dilma vive o sucesso enquanto Serra enfrenta dificuldades crescentes. Não bastasse o desgaste do eleitorado paulistano com a tradicional polarização PSDB-PT, que abre caminho para Celso Russomanno (PRB), o tucano tem um passivo acumulado por ter deixado a prefeitura em 2006 para concorrer ao governo do Estado. O eleitor não perdoa. Uma vez quebrada a confiança, recuperá-la é mais difícil do que conquistá-la do zero. Hoje, Serra amarga um índice de rejeição que chegou a impressionantes 46% no início do mês, variou para 44% há duas semanas e ficou em 45% na última pesquisa Datafolha. Se for comparado o desempenho de Serra nas eleições presidenciais de 2010, na cidade de São Paulo, com sua performance no pleito municipal deste ano, o cenário é ainda mais desolador. Há dois anos, Serra foi votado por 44% da população paulistana, o equivalente a 3,7 milhões de eleitores. Agora, apenas 1,8 milhão se revela disposto a votar no tucano. Ou seja, levando em consideração os votos válidos e com base na estimativa das eleições deste ano, em 24 meses Serra perdeu quase 2 milhões de votos num universo de 8,6 milhões de eleitores.

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O pior desse quadro eleitoral catastrófico é que Serra sabia que não era a hora de concorrer à prefeitura. “Ele não queria sair candidato. Mas, quando ele abriu mão do projeto presidencial, ficou claro que não via alternativa”, lembra o sociólogo Antônio Lavareda, da consultoria MCI. No QG de campanha tucana, a avaliação é que mais uma vez houve falhas na condução da candidatura. Rachados, os tucanos partiram para um embate interno na convenção, e os derrotados demoraram a se engajar. A desarticulação passava despercebida até levarem um susto com as primeiras pesquisas que apontaram o crescimento do petista Fernando Haddad. Uma reunião foi convocada às pressas pelo comitê de campanha para avaliar os estragos. Discursos nervosos lembraram que a consequência da dispersão e da falta de empenho será assistir à vitória dos adversários, e se distanciar cada vez mais do poder. “A avaliação é de que precisamos permanecer na disputa. Serra está confiante de que no debate mais aprofundado no segundo turno será possível avançar e até vencer. Não falamos sobre aposentadoria, porque a disputa não acabou”, diz o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA), amigo do candidato.

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A dificuldade de Serra em São Paulo tem sido reavaliada dentro do próprio PSDB. O grupo que defende a candidatura de Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República em 2014, e que sempre considerou o paulista uma pedra no sapato, tem dúvidas sobre as consequências da derrota. Se por um lado Serra sairá enfraquecido dessa disputa, abrindo espaço para Aécio dentro da legenda, por outro, os tucanos sabem que perder o comando de uma prefeitura como São Paulo dificulta o caminho para o Planalto. “Não temos esse pensamento de desejar a derrota de um integrante do partido só para mostrar que ele está enfraquecido. Acho que sua vitória ajuda a todos, até pela importância de São Paulo”, pondera o deputado mineiro Rodrigo de Castro (PSDB). Embora a idade avançada não seja em si um limitador para o futuro político de Serra, o fato é que uma derrota do tucano em São Paulo acabará por reservar-lhe um papel ainda mais secundário nos rumos do partido e na vida política do País. 

Fotos: Paulo Pinto/ Diogo Moreira/Folhapress; Roberto Stuckert Filho/PR
Fotos: Marcos Alves/Agenica O Globo; Sergio Moraes/ REUTERS