CRISTINA GRANATO/WWW.BALADAS.COM.BR

DESCONTRAÍDAS Herdeira de um empresário
gaúcho, Gabriela Weiherman (de preto) adota
um estilo casual ao sair com as amigas

Nada de longo ou colar de pérolas. Nem pensar em smoking ou abotoaduras. A nova geração de socialites cariocas é bem mais despojada, geralmente freqüenta a noite vestindo jeans e camisa social e alguns até cometem a heresia de ir a recepções usando tênis All Star. A sofisticação não foi abolida, mas é usada, agora, em pequenas doses, apenas o suficiente para manter acesa a chama do glamour. “Não tem nada a ver ficar ostentando, ainda mais com essa pobreza e desigualdade que a gente vê hoje”, diz uma das legítimas representantes dessa tribo, a jovem Nicole Tamborindeguy, num surpreendente discurso de teor social. Preocupações desse tipo passaram longe das locomotivas – para usar um termo de época – que movimentavam o high society há três décadas. As diferenças entre as gerações são muitas. Se antes nove entre dez socialites optavam por viajar a Paris, hoje o destino preferido é a ilha espanhola de Ibiza. “Sei que lá vou encontrar todos os meus amigos”, justifica- se Paula Severiano Ribeiro. Grifes clássicas como Dior e Chanel deram lugar a marcas nacionais como Adriana Barra e Constança Bastos. A badalação passou por uma mudança radical: as festas superproduzidas, que marcaram os tempos dourados, são hoje raridade. O grupo que os antigos colunistas sociais chamariam de jeunesse dorée (juventude dourada) prefere festejar em boates e restaurantes a receber em suas próprias casas.

Ao contrário do que possa parecer, esses novos costumes não estão relacionados com as dificuldades financeiras que vitimaram uma ou outra família tradicional. “A alta sociedade continua com uma renda muito boa”, diz Carmem Mayrink Veiga, socialite de alta estirpe, que na década de 50 foi considerada pela revista Vanity Fair uma das mulheres mais elegantes do mundo. “Tenho amigas que ganham fortunas e nunca receberam mais de três pessoas em casa. Hoje todo mundo quer praticidade e, por isso, muitos reúnem os amigos em restaurantes.” Dar uma festa com o mínimo de trabalho e aborrecimento é o objetivo de Paula Severiano Ribeiro ao optar pela alternativa das casas noturnas. “O problema de fazer festas grandes atualmente são os penetras, que sempre aparecem. Quando você vai ver, seu banheiro está quebrado”, reclama ela. Por isso, prefere encontrar os amigos fora. De tanto freqüentar um desses points, o Bar da Praia, ela acabou por batizar com seu nome um dos drinques da casa, um espumante com suco de frutas vermelhas. O estabelecimento, marcado pela descontração, é exemplar para ilustrar o contraste com os salões glamourosos das décadas de 50, 60 e 70. Ali, socialites como Daniela Bernardes, Bárbara Pittigliani, Gabriela Weiherman e Luisa Marcondes Ferraz se divertem ao lado de simples mortais, que não pertencem a famílias endinheiradas. Há pontos de encontro mais sofisticados como o lounge Boox – onde, apenas para entrar, o homem paga R$ 90 – e o bar Londra, dentro do hotel Fasano, cujo cardápio não oferece uma cerveja long neck por menos de R$ 12.

O REI DOS PLAYBOYS

Jorginho Guinle representou uma época de ouro da alta sociedade carioca, em que a tradição e o glamour imperavam

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LOCOMOTIVAS
Uma das mulheres mais elegantes do mundo nos anos 50, Carmem Mayrink Veiga (à esq.) e sua filha Antônia (à dir.), uma das divas da década de 80

Mas há quem escolha manter a tradição. Nicole Tamborindeguy passou a última semana às voltas com a preparação da comemoração de seu vigésimo quarto aniversário. Ela vai recepcionar parentes e amigos no apartamento da família, no edifício Chopin, em Copacabana, um dos endereços mais nobres do Rio. “É o lugar mais adequado para receber pessoas queridas”, afirma. “Pena que esse tipo de festa tenha se tornado uma coisa rara.”

Se os ambientes onde acontecem os encontros sociais mudou, as roupas que os jovens usam nessas ocasiões passaram por transformação ainda mais radical. Tênis, jeans e camisetas de grifes nacionais são as peças mais comuns entre os socialites, enquanto seus pais raramente saíam à rua sem usar pelo menos uma marca importada. Hoje, alguns levam o despojamento ao extremo, como Tonico Monteiro de Carvalho. O rapaz, herdeiro de um dos sobrenomes mais tradicionais da cidade, é conhecido por usar bermuda mesmo em situações mais formais – provavelmente um hábito adquirido nos três anos em que viveu entre a Suíça e o Havaí. Há alguns anos, Tonico chamou a atenção por ter aparecido vestido de terno num baile de gala onde todos vestiam smoking. Algo impensável para as regras de elegância do patriarca da família, o empresário Olavo Monteiro de Carvalho, conhecido por seus colarinhos impecáveis.

Não faltam exemplos de jovens do high society que foram à luta conquistar o mercado profissional. Uma delas é Maria Monteiro de Carvalho, gerente de exportação da grife Isabela Capeto. É ela quem administra a expansão da marca para o Japão. “Estamos pensando em abrir uma loja própria no bairro de Shibuya, em Tóquio”, conta ela. Conhecido pelas festas de Réveillon que costuma promover em seu apartamento, o festejado Bruno Chateaubriand é outro que está metido em muitos negócios. Dono de lojas de calçado, de uma fábrica de bolsas femininas e de duas academias de ginástica, ele até pouco tempo atrás tentava a carreira de apresentador de TV no SBT. “A alta sociedade não existe mais, o mundo mudou”, diz Chateaubriand. “Essas pessoas são destaque no seu trabalho, contribuem de alguma forma.” Para ele, não adianta apenas ter um sobrenome de peso. “Antes, as pessoas davam muita importância a isso, como se fosse um título de nobreza. Não faço o que faço porque sou um Chateaubriand, mas porque as empresas que me contratam me consideram competente.”

ARQUIVO PESSOAL

POINT Paula Severiano Ribeiro, Nicole
Tamborindeguy e Leonardo Alves: todo ano em Ibiza

Responsável por organizar o livro Sociedade brasileira, espécie de guia onde há mais de 30 anos são relacionaram das as mais tradicionais famílias do País, Helena Gondim acha que o termo high society não deveria mais ser usado. “O mundo mudou muito, a vida antes era mais glamourosa.” Ela não sente falta apenas da sofisticação proporcionada pelo dinheiro, mas da delicadeza que era comum em outros tempos. “Os homens eram mais gentis, abriam a porta do carro para a gente. Hoje, não, as mulheres já andam na frente”, lamenta. A nova geração pensa diferente. O jovem João Paulo de Magalhães Lins, 26 anos, filho de um ex-banqueiro e cuja mãe vem da família Nabuco, acha que essa época acabou em boa hora. “Devia ser chato seguir aquela cartilha, a mesma rotina”, acredita ele. Se na época dos playboys a bebida preferencial era o uísque – de preferência 12 anos –, o rapaz passa longe do álcool. “Não bebo, só tomo água.” Se não os outros motivos, ao menos este deve fazer o rei dos playboys, Jorginho Guinle, se revirar no túmulo.

DRINK Bárbara Pittigliani e Tonico Monteiro de Carvalho
no descontraído Bar da Praia, na orla do Leblon


As ‘bíblias’ dos colunistas sociais nos Estados

Publicações que listam socialites e famílias tradicionais são freqüentes no País, principalmente no Nordeste. Na Bahia, o Livro da sociedade Bahiana, publicado a cada dois anos, traz a história dos mais tradicionais, e ricos, do Estado. No Ceará, o colunista social Lúcio Brasileiro edita a cada dois anos o Sociedade cearense. De Fortaleza, Cláudio Cabral lançou o Geração emergente, publicação anual que apresenta os jovens mais atuantes da cidade, de até 35 anos. “Para o lançamento, promovo um coquetel para mais de mil convidados”, conta o autor. No Recife, o colunista João Alberto Martins Sobral, do Diário de Pernambuco, elabora há 25 anos o aguardado anuário Sociedade pernambucana. Em Belo Horizonte, a colunista Daniela Portela lançou o Sociedade mineira, com a relação completa dos “privilegiados” de Minas. E há sempre os livros “high society” que fogem do convencional. Entre eles está o Catálogo de brotos, de Paulo Gasparoto e Elias da Rosa, que lista as meninas mais belas entre 13 e 17 anos da alta sociedade de Porto Alegre. Em Brasília, Ana Maria Gontijo já lançou dois volumes do livro Mesas do Planalto, que mostra as residências dos anfitriões locais.

 

 


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