Limpe o prato!” “Coma tudo o que foi servido!” As ordens chegam antes mesmo de a criança se sentar à mesa. E, sem direito a qualquer argumento, muitos pais encerram a conversa diante da primeira manifestação de rejeição da comida pelo filho. Sob esse clima pesado, o prato até fica limpo, mas os efeitos podem ser devastadores para os pequenos. É a conclusão de um estudo da Universidade de Boston feito com 872 crianças. Os filhos de pais autoritários e insensíveis às suas vontades têm cinco vezes mais chances de ficar obesos. Além disso, ficam mais suscetíveis à depressão e podem ter o rendimento escolar comprometido.

Além do autoritário, os pesquisadores avaliaram mais três perfis de pais: os negligentes, alheios ao que os filhos comem, os permissivos, que liberam tudo, e
os maleáveis, que dão limites, mas são flexíveis e aceitam negociar. Ao final do trabalho, 17% dos filhos dos autoritários estavam acima do peso. Entre os filhos
dos negligentes, eram 10%. No grupo dos pais permissivos, 9,8% atingiram o sobrepeso. E, entre os filhos de pais maleáveis, o índice foi de apenas 3,9%.

Na avaliação dos cientistas, regras severas e restritivas provocam nas crianças
um stress tão intenso que as estimula a comer não por vontade, mas por fuga,
em resposta à pressão. “Os adultos precisam estabelecer limites, mas as
censuras devem vir acompanhadas de compreensão e sensibilidade. Assim,
as crianças entendem as decisões e as aceitam”, diz Kay Rhee, uma das responsáveis pelo estudo.

A pressão também pode levar os pequenos a comer demais porque assim aprenderam. Também nesse caso o efeito pode ser dramático. “A obesidade é uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Caso a criança seja estimulada a comer muito, pode engordar”, alerta a médica Zuleika Halpern. Na opinião da especialista, um dos caminhos para convencer os filhos a se alimentar corretamente é dar exemplos. “Se a família tem hábitos saudáveis, as crianças tendem a se adaptar a eles”, diz. A nutricionista Mariana Delbosco, da Associação Brasileira de Obesidade, recomenda ainda outra estratégia: a criatividade. “Faça pratos coloridos. Eles chamam a atenção e criam a sensação de quebra de rotina”, diz. Enfim, é a velha e saudável busca do equilíbrio.

Na mesa com a família
Outros estudos mostram que fazer as refeições com os filhos os ajuda a:
• Ficar longe do cigarro, da bebida e das drogas
• Ter menos depressão
• Apresentar menos risco para distúrbios como anorexia, a recusa de se alimentar