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Em um contexto em que a arte contemporânea está majoritariamente voltada para experimentações em novas mídias e reverberações da arte conceitual, a pintora Cristina Sá é uma guardiã dos fazeres manuais. Suas telas, instalações e móbiles tridimensionais, atualmente em exposição na Paulo Darzé Galeria de Arte, em Salvador, são fruto de uma intensa atividade que envolve pintura, colagem, desenho, costura e monotipia, processos manuais utilizados há séculos na arte ocidental e há milênios na arte oriental. ?Eu rasgo, colo, pinto, desfaço, refaço, costuro, amarro, imprimo. Minha arte terá sempre um compromisso com os processos de feitura?, diz Cristina. ?Felizmente, a arte tem muitos caminhos e, apesar de ter sua morte tantas vezes anunciada, a pintura continua, sempre.?

Na abrangência de seus processos, o trabalho de Cristina executa uma espécie de rota da seda, revisitada, funcionando como um elo de ligação entre o Oriente e o Ocidente. Segundo a artista, suas influências nascem no Extremo Oriente, na China, graças à influência genética do avô materno, de quem absorveu o uso da seda, do nanquim e do linho. Das viagens pela China, Nepal, Tailândia e Japão, a artista trouxe técnicas e diversos tipos de papéis, que são rasgados, molhados e modelados com tinta sobre tela. O papel washi japonês, por exemplo, foi utilizado em Salvador em três grandes instalações suspensas.

O roteiro das técnicas milenares de Cristina Sá alcança o Ocidente ao se utilizar de matérias como o acrílico, o metal ou o vidro. Todos esses elementos, somados, são harmonizados para compor figuras em formas de mandalas, paisagens e objetos leves e elevados, que favorecem uma relação altamente contemplativa com o espectador.

?A pintura e a meditação se relacionam diretamente em meu trabalho e em minha vida. A meditação é o que precede o campo de ação do trabalho, estabelece a entrega que dá início ao processo criativo. Daí para frente, o trabalho se desenvolve, criando zonas de tensão e ondas de equilíbrio?, descreve a artista.