Um grupo de preguiçosos hipopótamos descansa às margens de um rio africano enquanto pequeninos peixes mordiscam suas patas – nelas há parasitas e os peixes gostam deles. Nesse momento, como alguém que relaxa sob as mãos de um massagista, os hipopótamos prazerosamente esticam as patas, alargam os dedos (é para ajudar o trabalho dos peixes) e abrem a boca em sucessivos bocejos. A natureza tem razões que a própria razão desconhece. Vamos agora a um laboratório nos EUA. Nele, ratos começam a salivar quando os cientistas lhes acenam com torrões de açúcar ou pedaços de queijo. Finalmente, vale a pena dar uma olhada numa floresta e nada se compara à excitação das onças quando sentem a fragrância de um Calvin Klein Obsession masculino. Demorou. Mas a ciência já aceita que os animais sentem prazer – e nele está incluído o prazer sexual.

Depois de anos de controvérsia, centros de pesquisas em todo o mundo chegaram a um acordo: os animais não realizam suas tarefas cumprindo apenas um roteiro instintivo de sobrevivência – embora ele naturalmente exista. Segundo o etnólogo americano Jonathan Balcombe, autor de Pleasurable kingdom: animals and the nature of feeling good (Reino do prazer: os animais e a natureza de se sentir bem), os “animais têm sentimentos muito parecidos com os dos homens e entre esses sentimentos há o prazer no ato de acasalar e copular.

”Assim, a noção de que o ato sexual significa apenas tocar o gene da espécie para a frente começa a cair. Os pesquisadores entendem que, a exemplo dos humanos, a maior parte dos vertebrados copula não somente para se perpetuar de geração em geração. “Eles querem se divertir”, diz Balcombe. E isso vale para uma joaninha, para uma libélula ou para um elefante. As libélulas, agressivas no ato de reprodução, chegam a ponto de às vezes se matarem no acasalamento. Isso é instinto e joga contra a continuidade da espécie, mas nesse ato elas liberam substâncias idênticas às que são liberadas quando estão em momentos de extremo prazer, como a exposição ao sol.

A ciência chega a essa conclusão depois de estudar por décadas quase todos os vertebrados, dos mamíferos aos peixes, cujas estruturas neurológicas e bioquímicas são similares às dos humanos. Ao observar grupos de corvos, o biólogo americano Bernd Heinrich descobriu que esses pássaros tomam banho não apenas para manter a temperatura corpórea constante e combater os parasitas. “Eles nem sabem dessa propriedade do banho”, diz Heinrich. “Para os corvos, tomar banho é gostoso e dá prazer.”


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