No Itamaraty está se descobrindo nos últimos dias que por trás dos conhecidos punhos de renda existem algumas mãos bem pesadas. Varias situações no mínimo constrangedoras vêm manchando a imagem da Casa. Apenas no escritório de Nova York há o registro de pagamentos superiores a US$ 6 milhões a uma seguradora americana contratada para gerir os seguros dos diplomatas brasileiros. A milionária contratação foi feita sem licitação e o Tribunal de Contas da União vem encontrando dificuldades para fiscalizar a papelada mantida a sete chaves. Tão secretas quanto as despesas são as medidas administrativas tomadas por nossos representantes no Exterior. A embaixadora Maria Lúcia Santos Pompeu Brasil está prestes a ser aposentada. Isso porque uma operação de bastidores acabou por suspender o processo interno a que ela respondia por suspeita de envolvimento na venda de vistos de trabalho quando chefiava o posto diplomático do Brasil em El Salvador e posteriormente em Boston. A comissão que investigava o caso foi dissolvida e há uma ordem de serviço para que sejam adotados os procedimentos da aposentadoria, uma sugestão feita pelo advogado da embaixadora, que alega problemas mentais de sua cliente. Maria Lúcia é irmã de Maria Stela Pompeu, subsecretária-geral do Itamaraty. No processo não investigado, há indícios de que a venda dos vistos seria intermediada pelo marido da embaixadora, proprietário de uma agência de viagens.

Enquanto Maria Lúcia amarra na cúpula a sua aposentadoria, a embaixadora do Brasil em Paris, Vera Pedrosa, 70 anos, foi aposentada compulsoriamente em março. Ela, no entanto, continua desfrutando as benesses do cargo na capital francesa. No ano passado, quando assumiu o posto, Vera gastou cerca de R$ 100 mil apenas para mudar a decoração da embaixada. A embaixadora que recusa a aposentadoria é centralizadora a ponto de indicar pessoalmente os funcionários responsáveis pela contabilidade da representação diplomática. Também em Paris existem registros de salários pagos em dobro. A advogada da União, Sônia Maria Nobre, foi enviada para trabalhar na divisão jurídica da embaixada. Antes de desembarcar na capital francesa, recebia seus proventos da Advocacia Geral da União. Depois, passaria a receber do próprio Itamaraty. Os contracheques da servidora, porém, mostram que ela vem recebendo das duas fontes.

Em Roma, a reforma do Palácio Pamphilj, sede da embaixada do Brasil, é outro foco de problemas. A empresa responsável pelo serviço, a ALESS, está movendo processo contra a embaixada na Justiça italiana. Alega que não recebeu por serviços já executados e apresenta uma conta de 107 mil euros. O contrato da reforma, também ainda não apreciado pelo Tribunal de Contas da União, foi feito de forma terceirizada, numa curiosa triangulação. Quem contratou a empresa foi a Faap – Fundação Armando Álvares Penteado. Com tantas manobras e arranjos misteriosos, é fundamental que o Itamaraty se mostre mais transparente. Do contrário, nossos punhos de renda tendem a ficar cada vez mais puídos.