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IRREDUTÍVEIS
Professores reivindicam 30% a mais do que foi oferecido pelo governo

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Entre as várias categorias de servidores públicos em greve, no primeiro teste da relação da presidenta Dilma Rousseff com os movimentos sindicais, uma chama a atenção pela dificuldade de o governo chegar a um acordo. A paralisação de professores de 57 universidades e três institutos federais completou três meses na sexta-feira 17, rachou o movimento, obrigou o governo a apresentar duas propostas diferentes, mas avançou mais uma semana sem um sinal claro de volta às aulas. Embora os prejuízos econômicos neste caso não sejam tão facilmente computados, como o que ocorre com o bloqueio de exportações, causado por outras categorias paradas –, o Ministério da Educação contabiliza perda de R$ 3,7 milhões aos cofres públicos. O prejuízo é correspondente aos custos para manter as estruturas de ensino sem o devido uso.

As perdas poderiam ter sido evitadas. Os professores universitários foram os primeiros a receber uma proposta de acordo concreta do governo, em meados de julho. Em três anos, os professores receberiam R$ 3,9 bilhões em reajustes que beneficiariam, sobretudo, os doutores com dedicação exclusiva. Pressionado, o Ministério do Planejamento apresentou uma segunda proposta dias depois, ao custo de R$ 4,2 bilhões até 2015. E disse, mais uma vez, ter chegado ao limite da negociação. Mas a maioria dos professores rejeitou a proposta do Ministério do Planejamento. O governo ofereceu um reajuste de 25% no piso, para os próximos três anos, podendo chegar a 45% para professores com doutorado e dedicação exclusiva em 2015. A Andes quer pelo menos 30% a mais do que o governo oferece. Se aceita, a proposta custaria R$ 10 bilhões aos cofres públicos nos próximos três anos. “Não conheço nenhuma outra categoria que tenha proposta semelhante nesse quadro de crise internacional”, avalia o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, mais preocupado em garantir a reposição das aulas do que fazer valer o desconto nos salários dos professores.

Independentemente do caminho traçado, os efeitos da greve atual ainda serão sentidos pelos próximos três anos, à semelhança do que ocorreu na última grande greve dos professores em 2005. Na ocasião, o ano escolar foi perdido, o calendário seguinte começou com atraso e só se normalizou em 2008. Na semana passada, o MEC encaminhou circular cobrando dos conselhos superiores das instituições federais um cronograma de reposição das aulas e das atividades interrompidas, mas os reitores se negaram a elaborar qualquer cronograma antes do fim da greve. Simulações mostram que o ano letivo de 2012 só acabará em fevereiro do ano seguinte. E 2013 para os alunos das universidades federais só deve começar em abril.

Há outro tipo de prejuízo imensurável imposto pela greve: os efeitos avançam para além dos limites das salas de aula, atingindo as pesquisas e os hospitais-escola. Nos hospitais das universidades do Paraná, Goiás, Sergipe e Minas Gerais, cirurgias e consultas foram canceladas. Em outros 36 hospitais, a paralisação dos servidores afetou ao menos um tipo de atendimento e a emergência. A greve arranhou até a imagem das instituições no Exterior. A Universidade de Brasília perdeu 15 posições entre as melhores universidades da América Latina, no ranking Top Universities, que avalia a qualidade das instituições ao redor do mundo. A UnB caiu de 11ª para a 25ª colocação. O item “greve” não existe no julgamento, mas já ficou claro para os avaliadores que as paralisações afetam a qualidade de ensino. No momento, a estratégia do governo é apostar no desgaste do movimento dos professores com a volta ao trabalho dos técnicos de universidades. Na avaliação do Planalto, a greve dos servidores em geral não avança depois do dia 31 de agosto, prazo final para o envio da proposta de lei do Orçamento da União ao Congresso, com a formalização das propostas de reajustes. A data põe um ponto-final definitivo às negociações. Resta saber o tamanho da conta que a sociedade terá de pagar.

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