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TRAIÇÃO
Um dos assessores mais próximos de Bento XVI, Paolo Gabriele
era responsável por vestir e arrumar a cama do papa

Pai de três filhos, o mordomo Paolo Gabriele, 46 anos, parecia reunir as qualidades necessárias para servir ao papa Bento XVI, já que a polidez recatada e a fama de devoto extremado o tornavam insuspeito de qualquer indiscrição. Ele era a sombra presente em cada movimento de Joseph Ratzinger, a mão que o ajudava a se vestir nas primeiras horas da manhã e que preparava a cama para o repouso do sumo pontifície. Mas, como numa historieta policial, o mordomo foi acusado de vazar à imprensa documentos sigilosos que expunham fraudes financeiras e intrigas palacianas da cúpula da Igreja Católica, além de roubar um cheque de 100 mil euros (R$ 249,3 mil) e valiosos objetos pessoais do papa. Na semana passada, a Justiça do Vaticano decidiu que Gabriele será julgado pelo crime de furto qualificado, o que pode resultar numa pena de seis anos de prisão.

“Vendo mal e corrupção em toda a parte na Igreja, tinha certeza de que um choque até mesmo midiático poderia ser saudável para trazer de volta a Igreja ao seu caminho certo”, afirmou, em juízo, o ex-mordomo, que diz estar agindo sob inspiração do Espírito Santo. Mas não se sabe se o Espírito Santo tem participação no furto do cheque, de uma pepita de ouro, e de uma edição valiosa da “Eneida de Virgílio”, objetos doados ao papa que estavam entre os materiais encontrados na casa de Gabriele, quando ele foi preso em maio passado. O advogado Carlo Fusco afirma que seu cliente “jamais obteve dinheiro ou qualquer outra vantagem econômica”.

Os documentos divulgados pela imprensa italiana mostram cartas destinadas a Bento XVI em que se revela uma rede de corrupção e lavagem de dinheiro no Banco do Vaticano, memorandos que especulam sobre a morte do papa e seu eventual substituto, além de disputas internas por cargos na hierarquia da Igreja Católica. “Esta é uma estratégia de tensão, uma orgia de vinganças que já saiu do controle daqueles que pensaram que poderiam controlar a situação”, afirmou o historiador da Igreja Alberto Melloni, que não descarta a participação de cardeais no caso. Além de Gabriele, o técnico de informática Claudio Sciarpelletti, 48, será julgado por cumplicidade. Em prisão domiciliar, o mordomo já enviou seu pedido de perdão ao papa, que irá se pronunciar apenas após julgamento, previsto para iniciar em setembro. Se o perdão vier, o processo se extingue e o Vatileaks terminará em pizza.

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Fotos: Andrew Medichini/AP Photo; Divulgação

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