chamada.jpg
STAFF
Maria Silvia Marques (abaixo), e Claudia Escarlate entre Roberto Ainbinder (acima)
e Bernardo Carvalho: trabalho até de madrugada

01.jpg

São três horas da madrugada da quarta-feira 1º e uma comitiva de 20 pessoas visita as instalações do Parque Olímpico de Londres. Além de representantes da organização dos Jogos e do Comitê Olímpico Internacional, estão no grupo alguns brasileiros. Entre eles, a arquiteta Cláudia Escarlate, 50 anos, funcionária da Empresa Olímpica Municipal do Rio (EOM) e coordenadora do projeto do Parque Olímpico da Rio-2016. O que estariam fazendo os notívagos àquela altura? “Trabalhando, é claro”, diz Cláudia, cujas olheiras não escondem a dureza de seu ofício. Para entender como funciona o sistema de logística do complexo (entrega de mercadorias, entrada de funcionários, controle do fluxo de visitantes), ela perdeu a noite de sono – mas certamente ganhou horas de aprendizado sobre como promover um evento da dimensão de uma Olimpíada. “Esse trabalho de observação está sendo fundamental para que o Rio conheça melhor os desafios que tem pela frente”, afirma a arquiteta. Cláudia está entre os cerca de 200 observadores brasileiros enviados a Londres para conhecer de perto tudo o que envolve a organização de uma Olimpíada. Além de especialistas da EOM, empresa que vai cuidar das obras de infraestrutura, estão na Inglaterra olheiros do Comitê Organizador da Rio-2016, responsável pela operação dos Jogos, e empregados de companhias de engenharia e serviços. O consórcio formado pelas construtoras Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken (constituído para a construção do Parque Olímpico carioca) mandou dez profissionais a Londres, que terão a incumbência de montar um relatório com os pontos positivos e negativos das arenas, e a Embratel manteve seis técnicos para acompanhar os sistemas de comunicação da Olimpíada britânica. “Cada evento trouxe novas informações, lições e dicas que poderão ser utilizadas ou adaptadas para a realidade carioca”, disse à ISTOÉ a economista Maria Silvia Bastos Marques, presidente da EOM, que visitou dez arenas londrinas. Na noite da quinta-feira 9, na final do vôlei de praia masculino, o governador do Rio, Sérgio Cabral, também deu seu pitaco como observador. “Nossa arena vai ser muito mais bonita”, disse. “Aqui não tem praia, não tem Copacabana Palace.”

O trabalho de profissionais como a arquiteta Cláudia Escarlate tem o desafio de analisar a organização da Olimpíada do ponto de vista técnico. Sob esse aspecto, ela trará valiosas lições. “Percebi que as alamedas para circulação dos torcedores no Parque Olímpico precisam ser amplas, pois se trata do principal espaço de convivência entre os turistas de diversos países”, diz Cláudia, que também ficou impressionada com o sistema de segurança. Segundo ela, seis mil câmeras vigiam, 24 horas por dia, os 200 hectares do Parque Olímpico. Apenas para monitorar a movimentação de pessoas pelo sistema de vídeo, a organização dos Jogos de Londres contratou 120 pessoas. O arquiteto Roberto Ainbider, diretor de projetos da EOM, também visitou as arenas como se fosse um visitante comum. Mediu, por exemplo, a distância entre as cadeiras (pequena, por sinal, especialmente no estádio de atletismo), observou a localização de banheiros e estudou o sistema de ar-condicionado dos ginásios esportivos. “Só observando na prática é que você terá condições de avaliar se aquilo serve para o Rio.” Ainbider ficou especialmente impressionado com as grandes distâncias percorridas a pé pelos torcedores. “Para chegar no local das provas de remo, você deixa o sistema de transporte e caminha quase meia hora”, diz. “Estávamos preocupados em fazer com que os turistas andassem demais nos Jogos no Rio, mas percebemos em Londres que isso é absolutamente necessário.” A rota passa a ser uma área de festa, uma oportunidade para conhecer torcedores de diversos países.

Os brasileiros estão analisando tudo: da logística
das arenas ao esquema de segurança

As longas caminhadas, porém, só são possíveis se os roteiros estiverem bem sinalizados. Em Londres, a organização escolheu um chocante rosa para indicar a localização das arenas esportivas. “No Rio, teremos um problema adicional com as placas, que é a questão da língua”, diz o observador Bernardo Carvalho, diretor da EOM, que ficou com a missão de analisar a estrutura de comunicação dos Jogos. “Elas deverão ser maiores, pois virão escritas em português e inglês.” O idioma não pode ser uma barreira que atrapalhe a vida dos torcedores. Para os Jogos do Rio, Carvalho diz que o projeto “Rio Criança Global” vai selecionar estudantes para o aprendizado do inglês. “Garanto que todos os voluntários do Rio vão falar inglês com fluência”, diz o executivo. Outro ponto observado foi a boa vontade de todos os envolvidos no que os organizadores chamam de “família olímpica.” Voluntários, policiais e até o pessoal das Forças Armadas foram orientados para aceitar brincadeiras dos torcedores. Os voluntários que carregam megafones receberam aulas para animar a torcida. “Isso ajuda a construir uma imagem positiva do país e certamente pensaremos em algo parecido para o Rio.”

Muita coisa funcionou em Londres, mas a organização dos Jogos também falhou em diversos aspectos (leia quadro). Houve falhas no sistema de vendas pela internet e na distribuição dos ingressos, por exemplo. Diretor-geral do Comitê Organizador dos Jogos do Rio, Leonardo Gryner diz que o modelo de comercialização de bilhetes dos britânicos não será adotado no Rio. “Em Londres, um dos problemas é que uma pessoa compra um bilhete para ver um jogo e automaticamente tem o direito de ver outro”, afirma Gryner. “Muitas vezes, essa pessoa não vai ver dois jogos. O segundo, então, ficará vazio.” Para os brasileiros, Londres serviu, entre outras coisas, para mostrar como fazer uma Olimpíada melhor. Tomara que as lições tenham sido realmente assimiladas.

02.jpg