O campo da genética já deu importantes contribuições para ajudar os antropólogos a entender o aparecimento dos seres humanos na África, entre cerca de 130 mil e 200 mil anos atrás, e o caminho que fizeram pelo globo desde então. As pesquisas consistem em analisar o DNA das populações atuais e, por meio de algumas mutações encontradas nos genes, recontar a história do homem. Agora, ela se prestou a uma tarefa um pouco diferente: descobrir as origens e história do melhor amigo do homem, o cão.

Os resultados, publicados semana passada por duas equipes de pesquisadores na revista Science, trazem dados curiosos. Os cachorros, provenientes de uma espécie conhecida como lobo cinzento, apareceram pela primeira vez na Ásia, há cerca de 15 mil anos, o que contraria indícios arqueológicos anteriores, que indicavam que seu surgimento havia ocorrido no Oriente Médio. Além disso, eles acompanharam as migrações de seus donos pela Terra, e devem ter chegado às Américas entre 12 mil e 14 mil anos atrás.

As diferentes raças de cães, englobando enormes variações de altura, aparência e cor do pêlo, surgiram devido a cruzamentos sucessivos que as espécies sofreram nos últimos 500 anos, segundo Peter Savolainen, do Instituto Real de Tecnologia, na Suécia, e autor de um dos estudos.
As pesquisas indicam também que, dos primeiros cachorros a aparecer no Novo Mundo, restam pouquíssimos traços. Explica-se: os primeiros colonizadores da América preferiram trazer os seus próprios animais, e as espécies foram muito pouco cruzadas com as linhagens americanas. “Nenhuma das raças modernas que nós analisamos possuem traços das linhagens originais do Novo Mundo”, comenta Jennifer Leonard, da Universidade da Califórnia, nos EUA, e uma das autoras do estudo.

A técnica usada para descobrir a origem canina é a mesma que já esclareceu muito da história dos seres humanos. No estudo de Jennifer, por exemplo, o material genético retirado para análise veio de um pequeno componente das células dos seres vivos, chamada mitocôndria. O DNA presente nessa estrutura é passado apenas pelas mães, e as mutações que ele sofre ao longo dos séculos dão as pistas para determinar as origens e a história da espécie estudada. Se a técnica é boa para homens, não poderia ser má para seus amigos.