Vila Prudente/ João Luiz Musa/ Narval Editora/ R$ 145
80’s Fotografias Analógicas/ Mujica/ Dash Editora/ R$ 75

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LADO A
Moradores da Vila Prudente têm dignidade retratada
por João Luiz Musa no fim dos anos 1970

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Nos anos 1970, os bairros da zona leste paulistana não ficavam muito distantes das cidades do interior, com seus parquinhos de diversões, seu futebol de várzea e garotos empinando papagaio. Nada que ver com a densa e problemática malha urbana das periferias de hoje. Quando as casas ainda tinham quintais e a fotografia ainda era uma atividade exclusiva de profissionais, o então jovem fotógrafo João Luiz Musa começou a frequentar as periferias da cidade abordando as pessoas na rua: “Você quer um retrato? Onde você quer fotografar?” Diante da oportunidade rara de ter um fotógrafo por perto, alguns pediam que registrasse a televisão nova, a geladeira, a filha ao lado do fogão. Após dois anos de visitas semanais ao Jardim Elba e à Vila Renato, nasceu a série “Vila Prudente”, em que Musa optou por documentar não a miséria, mas a dignidade na vida da zona leste paulistana.

A série foi concebida durante um laboratório didático de fotografia na Faculdade de Arquitetura da USP, que girava em torno da questão sobre quem é o “outro”. Assim, esse filho da classe intelectualizada paulistana, recém-formado pela Escola Politécnica da USP e frequentador da zona oeste, conheceu o outro lado da cidade. As fotografias da série, reunidas na publicação “Vila Prudente”, recém-lançada, também estão em exposição na galeria Luciana Brito até 18 de agosto.

Se Musa documentou a alteridade, Mujica, codinome de Henrique Guinsburg Saldanha, retratou seus iguais. Mujica começou a carreira no fim dos anos 1970 como assistente de Bob Wolfenson e atravessou os anos 1980 fotografando para revistas essencialmente paulistanas, como “Around” e “AZ”, e vivendo com intensidade uma cena noturna e cultural que começava a dar uma personalidade própria para São Paulo.

Se uma cidade tivesse as fases de vida de uma pessoa, São Paulo teria vivido sua adolescência nos anos 1980. Esses foram anos em que a capital paulista viveu a abertura para o mundo e o seu crescimento mais desenfreado.

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LADO B
Vera Zimmerman e Supla estão entre os paulistanos
retratados por Mujica nos anos 80

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A fotografia de Mujica é um testemunho dessa identidade em formação. O livro “80’s Fotografias Analógicas” faz o mapa dos moradores dessa cidade que, de dia, se vestiam no brechó Universo em Desfile, na Teodoro Sampaio, e depois viravam a noite no Cais, Aeroanta, Madame Satã, Carbono 14. “Do Masp ao Ritz – ponto de encontros e desencontros – disparava-se o ‘cult-circuito’ em que personagens urbanos, já com o radar meio tantan, passeavam em slides pela minha visão granulada”, poetiza Mujica.

Diante de suas lentes granuladas passaram pintores da Geração 80; Edgard Scandurra na banda Smak; Petê Marchetti começando a carreira de modelo; Vera Zimmerman, antes de posar para a “Playboy” e virar atriz de Gerald Thomas; Supla em sua melhor forma, quando conquistou Nina Hagen, e muitos mais.

Fotos: João Luiz Musa; Mujica