Moeda nenhuma escapa à visão privilegiada de Fábio. Quando caminha pelas ruas de São Paulo, ele sempre encontra alguma a reluzir no asfalto. Mania de garimpeiro. Em janeiro de 2000, Fábio Lamachia Carvalho, então com 26 anos, largou a faculdade de marketing e o emprego em um site para procurar esmeraldas no sertão da Bahia. Durante quatro meses, Fábio cumpriu o árduo ritual de dormir durante o dia para passar a noite – cerca de 12 horas seguidas – perambulando feito tatu pelas galerias esverdeadas da Serra da Carnaíba. Tudo por causa de um réveillon em Itacaré, no litoral baiano. Fábio viajou com dois amigos de infância, filhos de dois sócios em uma mina. “No dia 30 de dezembro, um deles recebeu uma ligação e soube que finalmente haviam alcançado o veio das pedras, 80 metros abaixo da terra. Dali a alguns dias, a mina ia começar a produzir e eles me chamaram para ser fiscal da equipe da noite. Topei na hora”, conta.

Fábio não imaginava que, dois anos mais tarde,
teria a satisfação de encontrar sua aventura
nas livrarias. Para escrever Sonho verde (Geração Editorial, R$ 28), o viajante reuniu as mais cativantes histórias ouvidas no garimpo entre
uma explosão de dinamite e outra. Mesclou as impressões de rapaz paulistano ao sotaque sertanejo e conseguiu reproduzir com graça
o descompasso entre as duas culturas. “Uma vez estava usando fio dental e um garimpeiro perguntou o que era aquilo. Quando falei o nome, ele riu. Pensava que só quem usava fio dental era
a Carla Perez. E depois roubou meu tubo para prender a fiação elétrica
no teto da galeria”, lembra o viajante. Carnaíba, a meca das esmeraldas no País, fica a cerca de 400 quilômetros de Salvador e produz
esmeraldas desde 1963.

A primeira regra para um fiscal de garimpo é tratar todos com respeito e atenção. “Cheguei ao trabalho como inimigo. A maioria ganha muito pouco e está ali em busca de um dinheirinho extra. Meu trabalho era minimizar o roubo, mas às vezes deixava um ou outro levar uma pedrinha”, confessa. “Com a possibilidade de ganhar alguma coisa, os garimpeiros trabalham com mais vontade”, explica. Com isso, cativou a amizade dos peões e chegou a dar aulas de alfabetização a um deles, o Fuminho. Só não conseguiu voltar para São Paulo com a grana que desejava. “Só aceitei a tarefa porque queria ficar rico. Tinha direito a 2% sobre tudo o que era encontrado. Mas, depois de um mês, a produção caiu e acabei voltando para casa sem um tostão”, jura ele. Não demorou muito para que os pais de seus amigos também desistissem de empreitada e interrompessem a extração. Agora, o jovem autor – apoiado pelo Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos e pela joalheria Amsterdam Sauer – quer garimpar água-marinha no sertão da Paraíba. O amuleto ele já tem: uma inseparável esmeralda baiana.