01.jpg
PARCERIA
Negócio entre o Itaú, de Ricardo Setubal, e o BMG,
de Ricardo Gonçalves, representou um marco

Num movimento totalmente inesperado, na terça-feira 10, o Itaú Unibanco se associou ao BMG e criou uma nova instituição: Banco Itaú BMG Consignado S.A., para negociar a joia da coroa do crédito pessoal, os empréstimos com desconto em folha de pagamento e risco baixíssimo. Por R$ 700 milhões, o Itaú terá acesso aos 3 milhões de clientes do BMG. No dia seguinte à operação, já surgiram sinais que indicam um cenário favorável para o crédito consignado no mercado brasileiro, com o anúncio do governo sobre uma nova queda da taxa básica de juros (Selic). A taxa foi reduzida pela oitava vez seguida pelo Banco Central (BC) e passou de 8,5% a 8% ao ano – o menor valor histórico. Com isso, o governo mostrou que quer o País como um todo trabalhando com juros mais baixos, num aceno de que o dinheiro ficará mais barato. Assim, as margens dos bancos vão diminuir, o que os empurra na busca de um volume maior de clientes.

A operação entre o Itaú e o BMG foi considerada um marco no mercado de crédito consignado. O Itaú Unibanco terá 70% da nova sociedade, ficando o BMG com o restante. O capital inicial da empresa será de R$ 1 bilhão. O modelo de negócio, agora, passa a ser um jogo de gigantes. Como o BMG era a principal referência nesse mercado entre os bancos de pequeno porte, a tendência é que as instituições financeiras menores façam o mesmo. A ação foi muito rápida e surpreendeu o BTG Pactual e o Bradesco, que vinham tentando fechar semelhante negócio com o BMG há pelo menos 40 dias. Cinco dias antes do acordo, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, tinha recebido a notícia de que a família Pentagna Guimarães, dona do BMG, aceitara vender ao Bradesco uma grande participação acionária do banco mineiro, com a preferência para assumir o controle em alguns anos. Setubal ficou inquieto. O Bradesco tem a maior carteira de crédito pessoal entre os bancos privados e o Itaú só aparecia na sexta posição. Se o negócio fosse fechado, ele dificilmente conseguiria alcançar o concorrente. As conversas, então, se intensificaram até o anúncio oficial.

Os dois bancos farão uma joint venture – associação entre empresas sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica. Em três meses, todas as carteiras de crédito originadas pelo BMG vão para essa nova empresa. As do Itaú continuarão sob a égide do banco paulista, com exceção dos contratos firmados nos correspondentes bancários. Quando os 3 milhões de clientes do BMG migrarem para o Itaú BMG Consignado, Setubal terá pago R$ 330 por correntista. Mas Ricardo Guimarães continuará sendo o controlador do BMG. “Somos bons em muitas coisas, mas reconhecemos que nesse mercado de consignado nosso desempenho estava aquém da capacidade que podíamos atingir”, disse Setubal.

"Reconhecemos que no mercado de consignado
nosso desempenho estava aquém"

Roberto Setubal, presidente do itaú

A expectativa do presidente do Itaú é que o novo banco tenha uma carteira de R$ 12 bilhões em dois anos e dispute a liderança dos bancos privados com o Bradesco. Os sócios sabem que vão ter de aportar mais capital no novo banco. Mas, nos próximos cinco anos, os paulistas se comprometeram a emprestar mensalmente até R$ 300 milhões para ampliar a capacidade de funding do BMG, a juros de mercado. É um valor significativo para o BMG, que negocia R$ 500 milhões em créditos por mês. “Com a operação com o Itaú, podemos continuar trabalhando sem ter o constrangimento de ter de parar por falta de capital”, afirmou Ricardo Guimarães.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

A associação deve amenizar as tensões no sistema bancário brasileiro. Desde que o Banco Central (BC) interveio no Cruzeiro do Sul, há pouco mais de um mês, instituições de pequeno e médio porte viram secar suas principais fontes de recursos. Nas últimas semanas, executivos de bancos pequenos e médios relataram dificuldades para captar recursos. No primeiro trimestre deste ano, as instituições financeiras de médio e pequeno porte registraram o pior desempenho de sua história e praticamente um terço dos 137 bancos registraram prejuízo. “Desde a crise do Panamericano e os problemas do Cruzeiro do Sul, os grandes bancos passaram a olhar os menores com receio e o crédito para eles ficou mais caro”, diz o analista João Augusto Sales, da consultoria Lopes Filho. E os grandes bancos têm avançado nos clientes dos pequenos. O Banco do Brasil anunciou o aumento de 16% de seus ativos de janeiro a março e informou que estava diretamente relacionado ao crescimento da carteira de crédito, especialmente o consignado. O Bradesco se fortaleceu no setor ao comprar o BMC, em 2007, e o Santander expandiu sua atuação sobre os servidores paulistas, atualmente, importante público do consignado ao adquirir o Banespa.

O último dado do Banco Central, de maio deste ano, mostra que o crédito consignado nunca esteve tão em alta. O volume de concessões foi 44,2% em comparação com o ano passado e, atualmente, essa modalidade representa 58,7% do total de crédito pessoal, sendo que mais de 80% dos tomadores são servidores públicos, com salário certo e depositado até o quinto dia útil de cada mês. O Itaú sabia bem o que estava fazendo, quando atropelou seus adversários.

02.jpg


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias