Em tempos de desordem política, econômica, social, religiosa e ambiental na Terra, uma cósmica ironia alinha cinco planetas num belíssimo espetáculo que pode ser apreciado de qualquer canto do mundo. O raro evento foi observado pela última vez há 62 anos e se repetirá somente em 8 de setembro de 2040. No Brasil, os pontos de luz que identificam os planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Saturno e Júpiter estão inclinados um pouco acima da linha do horizonte, na direção do sol poente, e podem ser vistos a olho nu ao longo de todo o mês de maio e dos primeiros dias de junho. Até o dia 3 de maio, a lua cheia também estará alinhada com os planetas.

O astrônomo paulista Walter Maciel, do Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo, explica que o fenômeno não passa de coincidência. “Os planetas têm órbitas distintas e se deslocam em diferentes velocidades. Por vezes, acontece de alguns deles passarem mais perto de nós”, diz. “Não há nenhuma influência gravitacional porque, mesmo que eles estejam mais próximos, as distâncias ainda são muito grandes”, reforça o físico carioca Marcomede Rangel, do Observatório Nacional. Esse fenômeno pode revelar novidades sobre o sistema solar. Milhares de cientistas em todo o mundo vivem debruçados sobre planilhas de cálculos matemáticos para conferir se o curso e a localização dos planetas observados no céu estão de acordo com o que foi previsto. Na quinta-feira 25, a agência espacial americana Nasa comprovou a precisão dos cálculos astronômicos: o estudo de antigas estrelas confirmou as estimativas de que o Universo surgiu há 14 bilhões de anos. O alinhamento dos planetas é uma boa ocasião para investigação, já que os astros estão mais próximos da Terra e numa mesma região do sistema solar. Se as observações revelarem que eles cumprem trajetórias diferentes das previstas, uma das possíveis razões é a presença de um corpo estranho – meteorito, asteróide ou novo planeta – que os atrai e modifica, minimamente, sua rota. No século XVIII, a investigação da órbita de Urano apontou indícios da existência de um objeto celeste desconhecido que, mais tarde, se descobriu ser Netuno.

A coincidência astronômica encerra importantes significados para os esotéricos. No último alinhamento, em fevereiro de 1940, o mundo assistiu perplexo à consolidação do Eixo, pacto firmado entre Alemanha, Japão e Itália, seis meses após o início da Segunda Guerra Mundial, deflagrada com a invasão da Polônia pelos nazistas. Um ano depois, a base naval americana de Pearl Harbor era bombardeada pelos japoneses.

Na Espanha, estava em curso uma sangrenta guerra civil. O que os astrônomos consideram ordenamento, a astrologia interpreta como conflito. O astrólogo carioca Antonio Carlos Harres, o Bola, afirma que o fenômeno é marcado pela forte tensão entre os planetas e afeta toda a humanidade. “A aglomeração de vários corpos celestes numa região do sistema solar cria um desequilíbrio de forças que aumenta as crises na Terra”, diz Harres. Para a astróloga Cláudia Lisboa, a crítica oposição entre Plutão e Saturno intensifica o alinhamento. Ele será potencializado ainda mais por dois eclipses: o lunar, em 26 de maio, e o solar, em 10 de junho, este último ocorrendo no signo de gêmeos, que está associado à comunicação. Os eclipses da Lua ou do Sol – observáveis apenas do hemisfério norte –, segundo Cláudia, trarão à tona os aspectos sombrios da natureza humana e comprometerão o diálogo em todos os níveis. “Esse cenário astrológico confirma a tendência de caos em 2002.

parecerá o que estava debaixo do tapete, a intolerância, a intransigência religiosa, ideológica e dogmática”, adverte Cláudia. Ela lembra que o início desse colapso foi em 2001, ano dos ataques fundamentalistas muçulmanos aos Estados Unidos. O fenômeno simboliza algo como a tempestade antes da bonança, na interpretação do astrólogo paulista Oscar Quiroga. “Em junho e julho poderemos estar à beira de uma Terceira Guerra Mundial, consequência de um movimento massivo de ruptura com antigas visões. Ao final deste ciclo de conflitos teremos paz”, postula Quiroga. A astronomia, é claro, não se sensibiliza com as previsões. “O homem se sente pequeno diante da imensidão do cosmo e de seus segredos. Interpretá-los é uma forma de se sentir seguro”, afirma o astrônomo Marcomede Rangel. Por via das dúvidas, vale a máxima do escritor inglês William Shakespeare de que existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias