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CANA Na penitenciária em que Kelly está presa vivem três mil presidiárias. Isso é 10% da população da cidade em que ela morava em Mato Grosso do Sul

 

 

A sua altura física quase empata com a extensão de sua ficha criminal. E olha que ela, a mulher em questão, é alta: 1,78 m. Ela é bonita, corpo de modelo em seus 57 quilos e manequim 38. E ela é boa, boa no que faz de errado: muito resumidamente, furtou dinheiro, cartões de crédito e cheques, levou excitados e deslumbrados incautos para a cama e os depenou com o golpe “boa noite, Cinderela”, utilizou créditos falsos para se vestir com roupas de grife, alugou carros importados e não os pagou, hospedou-se com nomes frios em caríssimos hotéis, furtou quadro e jóias, pós-graduou-se no estelionato, jantou e dançou bem. Dançou mesmo! Foi presa. Mas se ela era tão boa no que fazia, como então se deixou apanhar pela polícia? A resposta é nua: a cobiça foi maior que o cérebro. Ela dera falsa queixa de crime alegando que sua advogada lhe furtara roupas. A polícia, que já estava nos seus pés tamanho 36, telefonou-lhe e disse que recuperara as vestes. Ela apareceu no DP. E foi aí que a bonequinha de luxo acabou enquadrada.

Ela se chama Kelly Samara Camargo dos Santos, mas gostava de se apresentar como Kelly Tranchesi – usurpando o sobrenome de Eliana Tranchesi, dona da sofisticada Daslu. Pois bem, Kelly, 19 anos, saiu de sua pequena cidade mato-grossense de Amambaí para dar golpes grandes em São Paulo. Dura ironia: Amambaí é um dos menores municípios do Brasil, com 30 mil habitantes. Agora ela foi morar no maior presídio feminino da América Latina, a Penitenciária Sant’Ana, que tem população carcerária correspondente a exatos 10% dos habitantes de sua cidade natal – ou seja, três mil presas.

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Kelly diz que fez o que fez “para chamar atenção da mãe que não lhe dava amor” (seu pai é um rico dono de cassino no Paraguai). Claro que a beldade é zoião (gosta de furtar, na gíria de suas novas colegas), mas é incrível a sua capacidade de mentir – e convencer. Foi assim que tomou emprestado um quadro de Juan Miró quando namorou o filho do dono de uma galeria de arte. Devolveu-lhe o Miró intacto e, também intacto, furtou-o no dia seguinte. Ainda no campo da pseudologia, ela mentia para conseguir status e coisas de luxo, mentia e pisava firme em lojas, hotéis e restaurantes – e destratava serviçais. Dava certo, bastava arrogância e uns gritos para todos se curvarem. A bonequinha é bem marginal. Mas que ela entende um pouco da sociologia brasileira, disso ela entende.


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