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SOLIDÃO
O astrônomo J.R. Forster monitora as 42 antenas do Allen Telescope Array,
à espera de alguma mensagem enviada por um ET 

Desde que a humanidade descobriu que a Terra não é o centro da galáxia, a possibilidade de existência de outras civilizações fora do nosso planeta ronda o imaginário dos homens. Depois de Copérnico ter provado a teoria heliocêntrica, o conhecimento sobre o universo e as tecnologias para observá-lo aumentaram exponencialmente. Mas ainda continuamos sem a resposta para uma das perguntas fundamentais: estamos sós? Na procura por uma definição, em 1984 os americanos lançaram o instituto Seti (busca de inteligência extraterrestre, na sigla em inglês). Depois de muita empolgação inicial e de 42 antenas terem sido plantadas na Califórnia, o projeto chega aos dias de hoje à míngua, vítima da demora em produzir resultados concretos.

Na última semana, o instituto sem fins lucrativos realizou um congresso para divulgar o programa e angariar fundos. O objetivo era atrair doadores que possam completar o aporte de US$ 40 milhões para finalizar o Allen Telescope Array, seu principal programa. O ATA, como é chamado, foi concebido para ter o menor custo possível. Em vez de usar uma única e enorme antena, os pesquisadores planejam instalar várias menores, criando um campo similar ao de uma antena de 114 metros de diâmetro. Com os equipamentos, monitoram os céus à procura de sinais radiofônicos que sejam característicos de uma civilização inteligente. A tecnologia é similar à usada em sistemas de televisão.

Apesar da busca por saídas econômicas, os astrônomos só conseguiram montar 42 das 350 antenas previstas no projeto. E mais: por falta de financiamento, a operação dos instrumentos chegou a ficar sete meses parada no ano passado. O que salvou os equipamentos da deterioração por falta de uso foi a Força Aérea americana. Em abril deste ano, os militares contrataram os serviços do instituto de pesquisa SRI, que usou o Allen Telescope Array para monitorar detritos espaciais próximos à Terra.

De acordo com um dos astrônomos sênior do Seti, Seth Shostak, uma das culpadas pela falta de verbas é a crise financeira mundial. “Nossos projetos são financiados principalmente por contribuições individuais. Com os problemas econômicos pelos quais os EUA estão passando nos últimos anos, nossa capacidade de pesquisa foi severamente comprometida”, lamenta. Não é só a disponibilidade de recursos que prejudica a busca por civilizações alienígenas. A falta de resultados imediatos coloca esse tipo de pesquisa em último na lista de prioridades dos investidores. “A questão do ATA é mais antiga do que a crise financeira. Ele sempre foi um projeto caro, e os financiadores têm que optar pelo que vai trazer retorno mais rápido”, avalia Joaquim Eduardo Rezende Costa, chefe da divisão de astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

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Com o possível sucateamento do Seti, seus defensores argumentam que ficam ainda mais distantes as perspectivas de obter resultados positivos na escuta por sinais de outras civilizações. “Seria irreal esperar sucesso em pouco tempo para nossas buscas de vida inteligente fora da Terra. Mas o fato de não termos encontrado nada ainda, na minha opinião, é simplesmente uma consequência de não termos examinado porções suficientes do céu”, argumenta Shostak.

O campo de busca tem sido reduzido depois que o telescópio Kepler, da Nasa, começou a identificar planetas que poderiam conter formas de vida semelhantes às da Terra (leia quadro). Mesmo assim as possibilidades são quase infinitas. “Ainda não sabemos para onde apontar nossos equipamentos, o universo é vastíssimo”, diz Costa.

Mesmo com esse quadro, em que é mais fácil encontrar um ET do que um centavo vindo de investidores, os astrônomos do Seti não perdem a esperança e se mostram dispostos a tudo. No congresso da semana passada, Jill Tarter, uma das fundadoras, renunciou ao seu cargo de diretora para poupar a instituição do custo do seu salário. Além disso, o instituto promoveu um leilão de quadros, jogos de tabuleiro, pesos de papel, DVDs e até garrafas de gim. Só resta torcer para que os extraterrestres do lado de lá não estejam passando por problemas semelhantes na busca por gente como a gente.

 

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Fotos: Divulgação