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INDEFINIÇÃO
Nicolas Powidayko, aluno de economia da UnB, fará um curso no Exterior
em julho, mas não sabe como ficará sua situação acadêmica no Brasil

Faltando apenas 26 dias para concluir o curso de odontologia na Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), a estudante mineira Laíce Leão Ferreira, 24 anos, teve uma ingrata surpresa. Com a colação de grau marcada para 21 de julho, ela terá de adiar a especialização em ortodontia que planejava fazer em agosto por causa da paralisação das instituições de ensino federais. “Também estou com um emprego engatilhado em uma clínica em Salvador, mas terei de esperar meu diploma sair para começar a trabalhar”, diz a jovem. Já o estudante Nicolas Powidayko, 20 anos, aluno do sexto período de economia na Universidade de Brasília (UnB), teme perder o semestre por conta da greve. Das sete disciplinas em que está matriculado, apenas uma continua com aulas. “Em julho vou fazer um curso de verão na London School of Economics, em Londres, que só deve terminar em meados de agosto. Mas não sei como estará minha situação acadêmica quando eu voltar.”

Desde o dia 17 de maio, universidades federais, institutos federais de ensino superior e centros federais de educação tecnológica (Cefet) de todo o Brasil estão com aulas e atividades suspensas. A paralisação, de acordo com o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), tem como objetivo melhores salários e a elaboração de um plano de carreira para docentes e funcionários. Em pouco mais de 40 dias, professores e servidores de 95% das instituições federais de ensino superior do País cruzaram os braços, deixando aproximadamente 600 mil estudantes sem aulas (leia quadro). Segundo a Andes, trata-se da maior paralisação do Brasil na última década. Além de docentes e servidores, alunos de 30 universidades aderiram à greve, apoiados pela União Nacional dos Estudantes (UNE).

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"Estou com um emprego engatilhado, mas terei de
esperar meu diploma sair para começar a trabalhar"

Laíce Ferreira, estudante da Unifal-MG, que ficou sem aulas,
faltando apenas 26 dias para concluir o curso de odontologia

Os problemas para aqueles que estão sem aulas vão desde o atraso na conclusão de curso até a perda de prazo de cursos de pós-graduação, no Brasil e no Exterior. Prestes a se formar, a estudante Sue Ling Silva Lopes, 24 anos, que cursa letras na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), em Minas Gerais, também teve suas aulas suspensas ainda em maio, e agora não sabe se conseguirá fazer uma pós-graduação no Exterior em 2013. “Muita gente me diz para ir mesmo sem o diploma em mãos, mas eu quero poder provar que terminei a minha graduação”, diz Sue Ling.

Os docentes que aderiram à paralisação reivindicam a criação de uma carreira única para a categoria. Atualmente, há quatro níveis de cargos – professor-adjunto, auxiliar, assistente e associado, divididos em quatro classes cada. A proposta do grupo é criar 13 níveis remuneratórios, com variação de 5% entre eles a partir do piso para o regime de 20 horas semanais, que hoje é calculado em R$ 2.329. Já os servidores, que estão em greve desde 11 de junho, pedem aumento de 22,8% no piso salarial (R$ 1.034) e a correção de pendências da carreira. A solução do impasse, porém, só deve acontecer em 31 de julho, data em que o Ministério do Planejamento deve apresentar o plano de reestruturação de carreira para os docentes das instituições federais de ensino superior. Como informou a assessoria de imprensa do órgão, o novo acordo deve ter como referência de remuneração a carreira dos servidores do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e será elaborado em parceria com o Ministério da Educação e as entidades sindicais que representam a categoria.

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MANIFESTAÇÃO
Docentes, funcionários e alunos das instituições federais protestam, na quinta-feira 28,
na avenida Paulista, em São Paulo, pelo aumento da verba para a educação

Para o professor Remi Castione, da Faculdade de Educação da UnB, as greves no setor da educação devem ser repensadas. “Paralisações só valem a pena se a sociedade apoiar a causa e se mostrar disposta a abrir mão de uma parte do orçamento, que será revertido para pagar as despesas de pessoal na área da educação”, afirma. Na opinião do estudante Nicolas, a greve atual não é um instrumento de negociação satisfatório. “A maioria dos professores aderiu à suspensão das aulas porque não teve opção. Acho que a solução para as universidades federais reside muito mais na administração eficiente do orçamento do que no aumento dos investimentos”, diz.

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Fotos: Adriano Machado/ag. istoé; Gabriel Lordello/Mosaico Imagem; ALEXANDRE MOREIRA/AE


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