Um estudo realizado pelas universidades federal de Santa Catarina e estadual de Londrina com as plantações clandestinas de soja transgênica em Palmeira das Missões, no Rio Grande do Sul, dará mais motivos aos ambientalistas para exigir testes de impacto ambiental antes que os alimentos geneticamente modificados sejam liberados pela Justiça. Em nove lavouras de soja contrabandeada da Argentina, as espécies dão menos grãos do que as convencionais. Apresentam um alto teor de lignina – substância que confere rigidez às plantas –, o que faz o caule rachar com mais frequência nos períodos de seca. Alterada para resistir aos herbicidas, a soja também ganhou uma nova praga: o inseto Lagria Villosa, o Burrinho, que se alimenta de folhas em decomposição.

“Não querem testar o transgênico porque sabem que os efeitos colaterais vão aparecer”, afirma Rubens Nodari, geneticista da universidade catarinense. Um relatório da Comissão de Defesa do Consumidor do Congresso acusa a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, CTNBio, e o Ministério da Agricultura, de permitirem a propagação de plantios experimentais no País sem nenhuma fiscalização. O Ministério Público do Paraná interditou a propriedade do secretário-geral da Presidência da República, Euclides Scalco, que está arrendada e tem plantações da soja BRS 154, desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “É mesmo? A Embrapa nunca liberou produtos modificados para uso comercial”, reagiu o chefe das pesquisas genéticas da Embrapa, Luiz Antonio Barreto de Castro.

Em entrevista publicada na semana passada por Istoé, Castro defendeu a liberação dos transgênicos. A reportagem foi tema de uma acalorada lista de discussão mantida na internet pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “A própria Embrapa já constatou que 6% da soja convencional cruza com a transgênica se elas forem plantadas lado a lado. Não é preciso entender de ciência para saber que não existe risco zero e que os estudos feitos lá fora com transgênicos, nos quais Castro se ampara, não servem para o Brasil”, observa o coordenador dos cursos de biossegurança da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio, Silvio Valle. Nodari faz coro. “Castro diz que o produto está no mercado desde 1995 e essa seria a melhor maneira de testar os impactos sobre o homem. Como o médico vai saber se o paciente ficou doente porque comeu transgênico, se só agora os produtos no Brasil e no mundo vão começar a ter rótulo?” Castro prefere desprezar os detratores. “Estudo o assunto há 40 anos. Não vou discutir com esses caras. Eles cientificamente não existem”, diz. Embora o governo tenha aprovado uma lei de rotulagem das embalagens dos alimentos modificados, a maioria deverá escapar do rótulo. “Os produtos à venda são derivados de transgênicos. Têm, portanto, taxa de componentes alterados inferior à taxa fixada de 4%. Isso não significa que são mais seguros ”, diz Valle.