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Foi a irritação do governo brasileiro com o discurso de Ban Ki-moon na quarta-feira sobre a insuficiente ambição do documento final da Rio+20 que levou o secretário-geral das Nações Unidas a convocar uma entrevista às pressas com a imprensa brasileira nesta quinta-feira com o objetivo de se desdizer: agora, Ban Ki-moon classifica o texto final da Rio+20 como "ambicioso, amplo e prático".

Segundo fontes diplomáticas, a irritação do governo brasileiro foi transmitida de forma "pouco suave" à ONU, e partiu principalmente da presidente Dilma Rousseff.

Na ONU, há certo desconforto com a situação. A visão é de que a diplomacia brasileira conseguiu de fato um grande feito em fechar em dois ou três dias um documento que vinha sendo debatido pelos países, com um enorme número de discordâncias, por meses. Há genuína admiração pelo trabalho do Itamaraty.

Por outro lado, a percepção é de que seria impossível, mesmo para a hábil diplomacia brasileira, resolver um número tão grande de contenciosos sem reduzir a substância e a ambição do texto. A timidez do documento final é uma conclusão quase unânime, variando apenas o grau da crítica – muito mais ácida no caso das ONGs, atenuada e buscando aspectos positivos no caso dos governos que vão assinar o texto.

Aliás, o próprio ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, fez referência às insatisfações provocadas pelo documento final. A reação do governo brasileiro ao discurso de Ban Ki-moon, portanto, surpreendeu a ONU.

Um experiente diplomata lembrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs a realização da Rio+20 em 2007, quando o mundo estava no ápice do boom econômico, e havia um otimismo generalizado. A conferência em si, porém, acabou sendo realizada na esteira da pior crise econômica desde a década de 30, o que reduziu muito a disposição de financiamento dos países ricos. Isso, por sua vez, tornou o ambiente de negociação mais recriminatório e menos propenso a se alcançar a tão almejada ambição.