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Uma revolução silenciosa se deu na esteira das mudanças que a era eletrônica imprimiu no mundo moderno. Ela transformou os códigos e as ferramentas das relações amorosas. Palavras e gestos de carinho foram substituídos por tecladas ansiosas e distantes, ávidas por uma resposta imediata. Amores começam e terminam pelo computador, traições são descobertas por serviços de mensagem instantânea, encontros são marcados pelo SMS do celular. Há prós e contras nessa nova história, dizem os especialistas. Mas, eles também garantem, ela é irreversível.
A relações-públicas Renata Vaz, 26 anos, e o agente de comércio exterior Flávio Azevedo se "conheceram" em partidas de Counter Strike (jogo online de disputa entre terroristas armados). Num encontro de equipes "ao vivo", os dois trocaram e-mails. "Quando ele me via no jogo, me paquerava", conta Renata. Muito bate-papo online e partidas depois, a história acabou em casamento. Com 36,6 milhões de brasileiros conectados à internet, conforme a última pesquisa do Ibope/NetRatings, de agosto, casos como o de Renata e Flávio são cada vez mais comuns.

"Geralmente, quem desenvolve relacionamentos online valoriza muito mais o conteúdo do que a forma", afirma Luciana Ruffo, do Núcleo em Pesquisa em Psicologia e Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A produtora cultural Liliane Ferrari, 33 anos, casada com o designer Eduardo Souzacampus, 33 anos, é um exemplo. Ela faz questão de manter na web demonstrações de amor públicas, seja no Flickr (site que permite a criação de álbuns virtuais de fotos e vídeos), seja nos blogs de ambos. Além, claro, de trocar mensagens apaixonadas pelo Messenger. "É o dia todo", confessa.
Mesmo com diversas ferramentas que ajudam a conhecer pessoas, como o Orkut, o Facebook (redes de relacionamento) e o Twitter (que permite publicar e ler textos de até 140 caracteres), os casais ainda se formam principalmente por referências do círculo de amigos e família, de acordo com o doutor em psicologia pela Universidade de São Paulo Ailton Amélio da Silva. Foi assim que a atriz Sthefany Brito se aproximou do noivo, o atacante do Milan Alexandre Pato. Eles foram apresentados pelo irmão de Sthefany, o também ator Kayky Brito, trocaram durante meses mensagens online, ela no Rio, ele em Milão, antes de se conhecerem, já completamente apaixonados.

Em relações que não terminam de forma amigável, a tecnologia pode tornar o fim mais doloroso. Depois de seis anos de namoro, a advogada Juliana Freitas (nome fictício), 31 anos, recebeu um SMS terminando a relação. Como o ex-namorado se recusava a encontrá-la, as pendências se resolveram por telefone e e-mail. "Depois soube por meio da internet que ele participava há três anos de um fórum em que tinha publicado mais de 200 fichas de ‘avaliação’ de prostitutas", diz Juliana. "Foi um choque após o outro." "As pessoas esquecem que a internet não é o lugar mais seguro do mundo para mostrar o que faz. A rede é um reflexo de quem nós somos e do que temos de bom e de ruim", diz Luciana Ruffo. Mas há casos mais leves, como o do analista de TI Edson Roberto Forão, 25 anos, que já terminou mais de uma vez por e-mail. "Não tenho mais coragem para o olho no olho", afirma. "Acabar por e-mail é uma superficialização dos relacionamentos, mas evito condenar porque pode haver um novo código se estabelecendo", afirma Amélio da Silva. Que ele venha, então, com um manual de boas maneiras.