Na véspera do vestibular, o adolescente A.L. fez tudo como manda a cartilha da boa prova: deixou os livros de lado, pegou um cinema com os amigos, optou pela água-de-coco no lugar do chope e foi para casa dormir cedo para estar descansado no dia seguinte. Antes de deitar, porém, A. foi convencido pela mãe a entrar num círculo de giz traçado no chão do quintal onde, à luz de algumas velas coloridas, passou por um ritual de limpeza de todas as energias negativas que pudessem perturbar-lhe a concentração necessária à prova tão temida. “Eu sabia que estava bem preparado, havia estudado o ano inteiro, mas tanta gente estuda tanto quanto eu e na hora vem o branco, que não custava nada dar uma forcinha extra para a sorte”, conta A., que prefere não dar o nome “para não pagar mico na faculdade”. A mãe de A., a dona-de-casa C., de classe média alta e católica de formação, “mas afastada da Igreja há anos”, diz que usou a magia como aliada ao esforço do filho. E que lança mão de suas velas e mandalas sempre que algo começa a fugir do controle na rotina familiar. “Os problemas ainda surgem, mas os enfrentamos com mais serenidade e as soluções parecem mais fáceis”, garante. C. fez o curso do Colégio de Tradição de Magia Divina, fundado em 1999 pelo escritor e Mago da Luz Rubens Saraceni, que vem atraindo um número cada vez maior de interessados em um assunto que, até pouco tempo atrás, era visto como superstição de gente ignorante: a prática da magia.

Restrita ao longo dos séculos às sociedades secretas e escolas iniciáticas, privilégio de poucos e quase sempre associada pelo imaginário popular à prática de bruxarias, a magia começa agora a abrir suas portas e mistérios ao comum dos mortais. Uma abertura, dizem os iniciados, que ocorre como consequência dos tempos sombrios em que vivemos, nos quais a violência, a corrupção e o egoísmo parecem estar levando vantagem no embate tão velho quanto a própria magia, o do Bem contra o Mal. Centenas de pessoas têm acorrido nos últimos três anos a uns poucos núcleos de magia, como são chamados, para mergulhar no aprendizado que até pouco tempo era reservado a raros, ricos e poderosos.

Respostas – O que as leva em busca desse aprendizado oscila entre a mera curiosidade, o desejo de adquirir novos conhecimentos ou então de encontrar novas e mais eficazes formas de lidar com velhos problemas, como a angústia gerada pela insegurança, o medo de sortilégios ou a cura de doenças. Quase todos os que foram ouvidos por ISTOÉ admitiram estar cansados de serem explorados por falsos curandeiros, adivinhos da sorte ou fabricantes de horóscopos, e acreditam ter encontrado na prática da magia a resposta para muitos dos males que as afligiam.

Os empresários Luís Antônio Baptista e Adriano Camargo, sócios da New World Computadores e Sistemas, refletem perfeitamente esse novo perfil. Especialistas em tecnologia da informação, uma área profissional voltada para a alta tecnologia e, como explica Baptista, “totalmente fundamentada na lógica”, adotam a magia que aprenderam no colégio não só em suas vidas privadas, mas no dia-a-dia do trabalho. “Claro que não se trata de acender vela na hora em que um computador pifa”, comenta, com bom humor, o empresário. Ele explica que, muitas vezes, uma pessoa carregada de energias negativas, de preocupações e problemas em sua vida particular, não consegue enxergar os problemas que estão à sua frente. “Ao limparmos essa carga da pessoa, com ações sutis de magia que às vezes ela nem percebe, é como se as coisas ficassem mais claras e as soluções vêm mais rápido”, explica. Os clientes, acrescenta o sócio Camargo, percebem que há alguma diferença: “Como sua escala de valores muda quando você começa a praticar a magia, todo mundo percebe que há algo em você mais confortável, mais confiável, e isso se reflete nos resultados.”

O fato de a magia, nos moldes atuais, poder ser praticada sem espalhafato tem sido um dos seus principais atrativos, em um mundo dominado pela razão e o ceticismo. Segundo explicou o mago Saraceni
a ISTOÉ, “a magia, ao contrário da crença geral, não necessita de locais especiais ou aparatos suntuosos para ser praticada. O mago pode exercê-la no interior de sua casa, de seu trabalho ou na residência de alguma pessoa que esteja necessitando de sua atuação. Também ao contrário do que se imagina, não são necessários instrumentos complicados para a sua prática, mas sim determinadas pedras, giz mineral, eventualmente o azeite virgem, flores, velas, em suma, objetos muito fáceis de ser encontrados. Ela pode ser praticada também ao ar livre, nas margens de rios, matas, mar e montanhas, e não utiliza nem sacrifica animais.”

Austeridade – O Colégio de Tradição de Magia Divina, o mais
procurado e respeitado desses núcleos, funciona num local discreto
e sem nenhuma placa que o identifique no velho bairro operário do Belenzinho, na zona leste de São Paulo. Entre as velhas casas do bairro, um prédio acinzentado de dois andares abriga a escola. Trata-se de um local austero, sem nada que demonstre suas reais finalidades. O colégio
é dirigido por Saraceni, 50 anos, que se dedica ao estudo da magia desde
o início da década de 80. Pessoa discreta e afável, Saraceni recebeu
a reportagem com receio, confessando temer publicidade sensacionalista sobre algo tão complexo de se abordar. Ele explicou que o colégio, ou núcleo de magia, reúne semanalmente pessoas de todos os níveis sociais e categorias profissionais que se encontram para trocar informações, novas descobertas e também para se auxiliar mutuamente diante do desconhecido. “Trata-se de uma nova forma de lidar com os velhos problemas que afligem as pessoas, tais como obsessões, magias
negras, fobias e até doenças que a medicina convencional tem dificuldade em abordar”, explica Saraceni, que conta já ter formado
mais de dois mil magos.

Os cursos duram em média quatro meses e abrangem 21 áreas diferentes, tais como a Magia do Fogo, a Magia das Pedras, a Magia da Água, dos Vegetais, dos Gênios, da Espada, entre outras. O primeiro curso, o de Magia Divina das Sete Chamas, é fundamentado no elemento fogo e é praticado com velas que funcionam como condensadores ou irradiadores da chamada energia da chama. A Magia das Pedras trabalha com cristais e outros minerais no mesmo processo de condensação de energias. A Magia dos Vegetais cuida da regeneração e cura do espírito e a dos Gênios opera com os chamados elementais ou seres da natureza para combater forças do mal. Já a da Espada serve como elemento de ruptura das chamadas energias negativas. Ela rompe cordões invisíveis que estariam ligando o ser humano a essas energias ruins.

Carga pesada – O professor de educação física Gilberto Sérgio Munhoz é outro mago formado por Saraceni, que adota o que aprendeu nos cursos na rotina de seu negócio, uma loja de material esportivo. “Não dá para separar as coisas, quando você começa a sentir que alguém que entrou na sua loja chega com uma carga pesada, ruim, automaticamente você já começa a invocar uma limpeza, que o ajuda e também a essa outra pessoa”, explica. Ele conta que nunca foi muito ligado às coisas do espírito, mas que a magia “é diferente”: “Sou e sempre fui muito cético, não sou do tipo que acha que tudo o que acontece na vida tem causa espiritual, mas a magia me conquistou porque é essencialmente simples, ela lida com energias, reequilibra a mim e as pessoas ao meu redor. Isso é incontestável, é algo que você sente.”

Essa atração de pessoas nem sempre religiosas pelo universo da magia
é considerada normal por Saraceni, que faz questão de lembrar que a magia “nasceu antes das religiões, antes que as religiões se apossassem do domínio dos mistérios e dele fizessem instrumento de poder”. “Há uma curiosidade natural no homem de aprender, é algo típico do ser humano
e de suas necessidades: pessoas que têm problemas de fundo espiritual, pessoas que sofrem perseguições de espíritos do passado, outras que sofrem projeções mentais de seus desafetos, enfim, pessoas que têm medo ou insegurança em razão do próprio momento em que vivemos, que é de muitas transformações, e muitos não conseguem acompanhá-las. Tudo isso, associado à situação da violência, ao desemprego, à insegurança em relação ao amanhã, leva as pessoas à magia, para
se defenderem.”

Saraceni acredita que é justamente o mundo moderno como ele é que tem levado as pessoas a procurar a magia, sem medo de serem ridicularizadas: “Se você vai ao cinema, lá está a magia. Você entra na internet e acessa sites que falam de coisas extraterrestres. A literatura está quase toda recheada de magia. Veja o fenômeno atual do Harry Potter. Você entra nos games das crianças e vê seres fantásticos, seres dotados de superpoderes, os comics mais vendidos são aqueles dos super-heróis. Na verdade, estamos vivendo um tempo mágico, em que a magia está no ar envolvendo toda a humanidade. É um fato mundial. E nos deparamos também com os absurdos, as ordens negras voltadas para o Mal, para o culto de forças desconhecidas da humanidade.”

Ele defende que a magia vai se universalizar dentro em breve, deixando de ser hermética para se tornar algo comum a toda a humanidade. “Quem quiser praticar a magia só precisará se iniciar. Nós a mantemos controlada para que não aconteça a ela o que ocorreu com outras através dos tempos, ou seja, acabaram se desvirtuando e perdendo sua pureza e simplicidade, tornando-se complexa e ao mesmo tempo distorcida”, conclui.

Do outro lado da cidade, na arborizada Granja Viana, região nobre de São Paulo, outro núcleo disponibiliza cursos para quem pretende se iniciar nos mistérios da magia. É a Grande Fraternidade Branca Universal, que se dedica a ensinar a Magia de Saint Germain. O conde de Saint Germain foi um mago e alquimista que viveu na França, no século 18. Segundo o fundador da ordem, o carioca Paulo de Saint Germain, 45 anos, o conde lhe apareceu através de visões que tiveram início por volta dos três anos de idade. Numa dessas aparições, ordenou-lhe que fundasse um templo dedicado ao ensino da magia.

Talvez por localizar-se numa região mais familiarizada com o esoterismo, as energias da natureza e seus seguidores, a Fraternidade Branca se preocupa menos com a exposição pública e seus cursos são frequentemente anunciados em faixas das ruas e estradas vizinhas. “Entramos no Terceiro Milênio e na Sétima Era, que propiciam a abertura da consciência e deixam as pessoas mais predispostas ao mistério”, argumenta Saint Germain.

Liberdade – Os magos formados pela escola de Saint Germain, explica ele, são considerados representantes diretos do mestre francês e, sob sua orientação, beneficiam os lados espiritual, físico e emocional dos iniciados e dos que lhes são próximos. Por ser “uma das magias mais poderosas”, segundo seu mentor, “pois conduz magicamente a liberdade espiritual”, o mago de Saint Germain é iniciado por um curso de sete meses que inclui teoria e prática.

Ao contrário do Colégio de Magia Divina, a Grande Fraternidade Branca adota toda uma paramentação especial para seus rituais. Os magos devem usar uma parafernália que inclui a túnica mágica, que é a vestimenta ritual, a espada mágica de Saint Germain, a cruz de Saint Germain, o manto mágico “que o ocultará dos malefícios”, os cristais de ametistas, a vela, a taça, a medalha, o anel e o perfume da magia de Saint Germain – produtos que podem ser adquiridos no Emporium da Energia, que funciona no local.

Apesar das exigências que podem inibir os que não se imaginam vestidos como o lendário tutor do rei Artur, Merlin (que Saint Germain afirma ser um de seus ancestrais), o mago assegura que o que é ensinado em
seu núcleo está ao alcance de qualquer um. “Tudo é oferecido a
todos porque cada um vai exercer a magia de acordo com sua capacidade”, resume.

Magia para auxiliar nos casos de doença

– Acenda no chão sete velas coloridas, em círculo e nesta ordem: branca, azul-clara, verde, rosa, roxa, violeta e lilás.
2º – Coloque o nome ou uma fotografia da pessoa enferma dentro do círculo de velas, já acesas.
3º – Ajoelhe-se, concentre-se em Deus e em seus Divinos Tronos
e faça a oração evocativa abaixo:

Eu evoco Deus, evoco seus Divinos Tronos, evoco a sua Lei Maior e a sua Justiça Divina, assim como evoco seus Tronos Medicinais e peço que auxiliem na cama da doença de (nome da pessoa doente), sempre de acordo com o seu merecimento. Peço também que, caso seja necessário o auxílio de algum profissional (médico, etc.), então que este seja inspirado para o maior benefício deste (a) meu (minha) irmão (a). Amém.

Magia para anular o negativismo ou a antipatia de alguém que não tem afinidade conosco

– Risque no solo, com giz, uma estrela de seis pontas
(estrela-de-davi).
2º – Coloque sobre ela um prato de louça ou vidro.
– Coloque dentro dele num papel o nome do desafeto.
– Cubra o papel com o nome com azeite virgem de oliva.
5º – Acenda uma vela vermelha de sete dias e a coloque sobre
o nome do papel
– Faça a seguinte evocação:

Eu evoco Deus, evoco seus Divinos Tronos, evoco sua Lei Maior e sua Justiça Divina, assim como evoco seu Trono da Justiça aqui firmado nesta vela e peço que sejam anulados todos os sentimentos negativos vibrados contra mim por esta pessoa, e os meus, vibrados por ela, pois só assim deixaremos de nos odiar. Mas, caso não seja possível, no momento, a nossa harmonização, então que ela seja afastada de minha vida até que isto seja possível. Amém.

Magia para tirar a energia ruim de casas
ou ambientes de trabalho

– Pegue um prato de louça ou de vidro e derrame dentro dele cerca de um centímetro de azeite virgem de oliva.
2º – Acenda uma vela branca de sete dias e, após consagrá-la ao Trono da Fé, coloque-a dentro do prato com azeite.
3º – Faça a evocação:

Eu evoco Deus, evoco seus Divinos Tronos, evoco sua Lei Maior e sua Justiça Divina e evoco o Trono da Fé aqui firmado e peço que todas as energias negativas acumuladas dentro desta casa ou deste ambiente sejam absorvidas pela chama desta vela consagrada e sejam anuladas neste azeite. Amém.

Obs: Você pode repetir esta magia sempre que desejar

O que os levou à magia

Allan Caratti, estudante de direito
“Vim primeiro pela curiosidade. Mas adquirir novos conhecimentos e poder auxiliar o próximo é o que continua me alavancando”

 

Alexandre Cumino, técnico em eletrônica
“Simplicidade com a qual se consegue ativar energias divinas para o bem e o mergulho numa área de conhecimentos que nem sempre podem ser encontrados nas bibliotecas comuns”

 

 

Conceição florindo, empresária
“Sempre tive afinidades com o esotérico. A
magia me trouxe conhecimentos valiosos e tem acrescentado muito à minha vida. Além disso,
posso ajudar os outros”

 

Rita de Cássia Florindo, advogada
“Vim atraída sobretudo pela Magia do Fogo. Depois acabei me apaixonando por toda a teoria contida nos cursos. Hoje, dificilmente conseguiria alienar a magia da minha vida”

 

 

Cássia Marques, comerciante
“Fui conduzida por uma força íntima que me impeliu na busca a esses conhecimentos. A magia está integrada ao meu coidiano. Ela interage com o meu trabalho"

 

Marco Marques,
representante comercial
“Desvendar um mundo até então misterioso . Foi ele que me levou ao aprendizado da magia. Também o amor ao próximo”