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Desfrutar da boa gastronomia no Brasil está cada vez mais caro e os clientes têm levado susto na hora de pagar a conta, principalmente quando comparam os valores das refeições brasileiras com os praticados no exterior. E tem uma pitada de câmbio nesse cálculo.

Segundo o economista da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Erivaldo Vieira, o câmbio tem influência no alto custo da refeição no Brasil. “Não é que comer em outros países esteja mais barato. O que acontece é que, quando o dólar está mais baixo, o brasileiro sente menos no bolso quando se alimenta ou compra no exterior, então ele acha que tanto os produtos quanto os serviços estrangeiros estão mais em conta. Hoje, com o aumento recente que a moeda americana sofreu, a impressão já não é mais a mesma”.  

Não é só o câmbio

Outro fator determinante para o espanto na hora que a conta chega à mesa é o aumento do preço dos alimentos, como o feijão. E esses valores também estão sendo repassados ao consumidor. “A inflação geral, medida pelo IPCA, em São Paulo nos últimos 12 meses, incluindo o mês de abril, ficou em 4,54%. Já a alimentação fora do domicílio teve uma inflação de 8,87%, ou seja, quase o dobro”, completa Vieira.

Quando questionado sobre os impostos, que também são embutidos no preço final, o especialista confirma que a carga tributária no Brasil é muito alta. “As taxas para alimentação fora do domicílio giram entre 20 e 25% por aqui. Já em Nova Iorque, por exemplo, ficam entre 8 e 9%”, afirma Vieira. Outro ponto levantado pelo economista é que o crescimento da demanda nos restaurantes e bares faz com que esses subam os preços dos cardápios. “Com o aumento da geração de empregos, há mais dinheiro em circulação e mais gente disposta a gastar, desta forma, a procura pela comida fora de casa se torna maior”, diz.

À mesa

Joaquim Saraiva de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Bares de Restaurantes de São Paulo (Abrasel), explica que há outros fatores fundamentais na hora de precificar um prato. “A cidade de São Paulo possui a folha de pagamento mais cara do país e também o maior salário mínimo da classe (que gira em torno de R$ 840,00). Sobre isso, incidem, ainda, impostos, como FGTS e PIS”, diz.

A conta salga ainda mais quando são embutidos os preços altíssimos dos aluguéis dos imóveis, principalmente nos bairros nobres, e as taxas de administração dos cartões de crédito e dos cartões de alimentação. Também não dá para deixar de lado a questão da logística para entrega de produtos nos estabelecimentos. “Além do trânsito, que dificulta todo o sistema de abastecimento, a cidade possui restrições de horários para circulação de caminhões, obrigando as empresas a utilizarem carros menores, como as vans, reduzindo em três vezes a capacidade de distribuição”, acrescenta.
 
Em meio à discussão sobre valores reais ou abusivos, Joaquim reforça que muitos donos de bares e restaurantes estão diminuindo suas margens de lucro para manter a qualidade e não perder a freguesia. Já aos consumidores, a dica é olhar bem o menu antes de fazer o pedido. “Os cardápios estão mais adaptados não só ao gosto, mas também ao bolso do freguês. Sempre há uma oferta para agradar o cliente”, completa.