É comum um bebê chorar até três horas por dia. Afinal, essa é a única forma que ele tem para se comunicar – informar que está com sono, fome ou incomodado com o barulho, por exemplo. Mas no interior de muitos lares essa manifestação é rebatida por adultos com violentas sacudidas. Um ato condenável, que acontece com uma frequência muito maior do que se imagina. De tão recorrente virou alvo de um projeto internacional para preveni-lo. A campanha, que teve início na Austrália, já está em mais de 150 países e acaba de ser lançada no Brasil.

O objetivo é chamar a atenção de pais, babás, outros cuidadores, educadores e médicos para o problema e suas consequências. No meio científico, ele é chamado de síndrome do bebê sacudido. A violência pode provocar danos neurológicos, cegueira e até a morte do bebê. “Essa também é a causa mais comum de traumatismo craniano não acidental entre crianças menores de três anos”, afirma o psicoterapeuta João Figueiró, presidente do Instituto Zero a Seis, voltado para a promoção de ações em favor de crianças nesta faixa etária. A entidade e o Laboratório de Análise e Prevenção da Violência da Universidade Federal de São Carlos são os responsáveis pela campanha no Brasil.

Os prejuízos ocorrem principalmente porque, no primeiro ano de vida, o organismo do bebê está em pleno desenvolvimento. Os nervos e vasos sanguíneos são mais frágeis, por exemplo, assim como as estruturas do pescoço. Até os neurônios estão desprotegidos – a membrana que os recobre ainda está em construção. “Ao ser chacoalhado, o cérebro se desloca, já que tem volume menor do que a caixa craniana”, explica o terapeuta Figueiró. “E um dos resultados pode ser a ruptura de vasos e hemorragia intracraniana.”

Muitos médicos, no Brasil e no mundo todo, desconhecem a síndrome. “Por isso queremos divulgar mais informações a esses profissionais”, afirma a pediatra Evelyn Eisenstein, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Em relação às famílias, a campanha pretende orientar sobre formas de acalmar a criança durante as crises de choro. “A mãe que tem um vínculo forte com o filho protege. Queremos criar meios para fortalecer essa relação e evitar os maus-tratos”, diz a especialista.
 

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