O presidente francês, Nicolas Sarkozy, começou cedo sua carreira política. Com 28 anos, assumiu a prefeitura da próspera Neuillysur- Seine, nos arredores de Paris. Jean Sarkozy, o segundo filho do primeiro casamento do presidente, parece talhado para seguir pelo mesmo caminho. Aos 21 anos, ele acaba de ser eleito conselheirogeral da circunscrição sul de Neuilly, onde vive com a mãe, Maria-Dominique Culioli. Será, portanto, o representante da região no Conselho Geral, que corresponde às assembléias legislativas no Brasil. A porta de entrada de Jean na política foi o Palácio do Eliseu e, antes mesmo de disputar o primeiro voto, o jovem Sarkozy mostrou que carrega o DNA político do pai presidente, que costuma jogar duro. Jean foi encarregado pelo pai de ajudar na campanha do porta-voz presidencial, o diplomata de carreira David Martinon, à prefeitura da cidade. Bastaram poucos meses de campanha para que o jovem Sarkozy percebesse que os moradores de Neuilly não aceitavam a candidatura de Martinon, pelo simples fato de ele não ter raízes na cidade. Diante da constatação, o filho do presidente se uniu ao coro que repetia "Martinon, non, non" nos comícios de seu partido, o UMP (União por um Movimento Popular). Aliou-se a duas lideranças locais e abandonou Martinon.

Constrangido, o porta-voz presidencial retirou sua candidatura no dia seguinte. De quebra, pediu demissão do cargo na Presidência, mas Sarkozy pai não aceitou. Duas semanas depois, em meados de fevereiro, Jean anunciou sua própria candidatura ao Conselho Geral e o apoio para a prefeitura a um novo aliado, Jean-Christophe Fromantin, também do governista UMP. Ambos venceram no primeiro turno. No resto do país, o partido dos Sarkozy terminou a primeira etapa das eleições municipais com 44,5% dos votos, contra os 49% contabilizados pela oposição de esquerda. Entrou, portanto, em desvantagem no segundo turno das eleições municipais, que acontecem neste domingo. Além disso, as pesquisas indicam que as duas maiores cidades francesas – Paris e Lyon – devem continuar comandadas por socialistas. Nesse cenário, Neuilly foi a exceção que jogou luz sobre a figura do novo Sarkozy.

Tal qual o pai, Jean também apresenta uma vida privada digna de ampla cobertura pela mídia. Em outubro, o fim do casamento de Sarkozy com Cecilia Ciganer-Albéniz foi estampado em jornais de todo o mundo. O breve namoro que em três meses transformou a cantora e modelo Carla Bruni em primeiradama da França também foi descrito dia-a-dia pela mídia, em um país acostumado a tratar com discrição a vida privada de seus dirigentes. As peripécias do jovem Sarkozy também costumam virar notícia. Em suas primeiras aparições na imprensa francesa, Jean é acusado de bater sua moto em uma BMW e fugir, fazendo um gesto obsceno, em outubro de 2005. Só que o motorista do automóvel anotou o número da placa e abriu um processo contra ele que tramita até hoje na Justiça.

Apesar das evidências, Jean insiste em dizer que não está nos seus planos seguir os passos do pai. "Não tenho a ambição de investir no campo da política nacional", disse o jovem político, ao final da contagem dos votos. "Minha missão é simples, é defender os interesses dos moradores de Neuilly e ficar dentro de meu perímetro." Sarkozy certamente pensava assim. Tanto que ficou 19 anos à frente da prefeitura. Mas os limites entre Neuilly e o centro de poder da França podem, na prática, ser facilmente confundidos. A cidade, que abriga cerca de 60 mil habitantes, fica a apenas oito quilômetros da catedral de Notre-Dame, em Paris.

Até entrar para a vida política, Jean dividia seu tempo entre o curso de direito na Sorbonne e as aulas de artes dramáticas com Jean-Laurent Cochet, o homem que descobriu os atores Gérard Depardieu e Isabelle Huppert. Depois de fazer uma audição, em outubro passado chegou a ser escolhido para interpretar o protagonista da peça Oscar, na Grand Comedie de Paris. O diretor Philippe Herson garante que a escolha se deu pelo "enorme carisma, ótima dicção e capacidade de improvisar" de Jean e não pela ascendência famosa, já que ele teria se inscrito para o teste usando o sobrenome da mãe. Seu irmão mais velho, Pierre, 22 anos, jamais se interessou pelas atividades públicas do pai. No ano passado, começou a ganhar notoriedade como produtor de hip-hop. Esse é o ritmo preferido dos rapazes da periferia das grandes cidades francesas que Sarkozy, quando ministro do Interior, chegou a chamar de "ralé" durante os distúrbios urbanos registrados no final de 2005. Jean tem ainda outro irmão, Louis, dez anos, filho do segundo casamento de seu pai, com Cecilia. Junto com as filhas do primeiro casamento de Cecilia, os três compareceram à cerimônia de posse do pai como presidente da França, em maio do ano passado. Por enquanto, apenas Jean parece ter sido contaminado pelo vírus da política.

 

HERDEIRO POLÍTICO Jean na posse do pai, Nicolas Sarkozy, em maio passado, com os irmãos e a madrasta da época, Cecilia