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PERÍCIA
Rocha durante o treinamento nos EUA, em 1943: apenas dois tiros na
asa do avião em 75 combates

Antes de embarcarem para a Itália, para se somar às tropas aliadas na Segunda Guerra Mundial, os pilotos brasileiros do 1º Grupo de Aviação de Caça ouviram de um treinador americano, à frente de seus potentes aviões P-47 Thunderbolt, a seguinte recomendação: “O P-47 sempre trará vocês de volta para casa, a não ser que façam ataques rasantes ou bombardeios de mergulho. Se o fizerem, terão a mais emocionante e a mais curta das vidas.” Entre esses jovens militares estava o paulista Fernando Corrêa Rocha, um ex-estudante de direito de 23 anos, afilhado do escritor Mário de Andrade, e apaixonado por aviação. Escalado para 75 missões de combate, Rocha deu rasantes, afugentou soldados nazistas e voltou ao Brasil com vida e condecorações militares. Seus gestos heroicos estão sendo lembrados agora com o lançamento do livro “Cartas de um Piloto de Caça” (editora Ouro Sobre Azul), que reúne a correspondência mantida com a família e os amigos, além de um diário dos dias no front. Com prefácio de Antonio Candido, que foi colega do rapaz na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, o livro é documento precioso: reúne uma iconografia inédita e depoimentos nunca antes publicados de um aviador brasileiro na Campanha da Itália.

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SENTA A PUA
A unidade da FAB em Pisa (acima) e um grupo
sendo instruído para o ataque: bombardeios de madrugada

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Esse material foi descoberto há quatro anos por Heloisa Rocha Pires, filha do piloto, ao organizar os pertences do seu pai recém-falecido. São, ao todo, 63 cartas escritas entre maio de 1943, ano em que o jovem ingressou em um treinamento nos EUA, e junho de 1945, quando terminou a participação da FAB na guerra. O “senso de humor” do futuro tenente, ressaltado por Candido em sua apresentação, é uma constante na correspondência, que – supõe-se – visava tranquilizar os familiares diante dos riscos vividos a todo instante. Escreve Rocha: “Os nossos ataques têm desmoralizado tanto a famosa Luftwaffe que os pobres-diabos dos pilotos alemães nos evitam a todo custo. Eles só aparecem de vez em quando, e sempre se arrependem. A missão de nosso esquadrão é a coisa mais perigosa dessa guerra, mas, em compensação, é a mais gozada e emocionante.”

O tom muda radicalmente no diário. Ao descrever o bombardeio da ponte de Treviso, operação fundamental para neutralizar a mobilidade das tropas nazistas, Rocha dá a exata medida do que se passou. Após receber as ordens de “senta a pua”, famoso grito de guerra dos nossos pilotos, ele mergulhou de uma altura de oito mil pés. “Olhei o altímetro: 3.500 pés! As granadas de 20 mm já explodiam brancas lá atrás mais acima. Era hora de recuperar. Cuidado com as .50, pensei num relance. Comecei a levantar o nariz do avião, soltei as bombas e cabrei violento recuperando pela esquerda, enquanto de esguelha eu vi minhas bombas rebentarem uma sobre a ponte e a outra dentro do brejo.” Não resta dúvida: Fernando Corrêa Rocha é um herói brasileiro.

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