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PIONEIRO
Lejeune foi o primeiro a estabelecer um vínculo entre um
defeito cromossômico e uma deficiência humana

Era manhã do dia 3 de abril de 1994, domingo de Páscoa, quando o mundo acordou com a notícia da morte de um dos maiores geneticistas de todos os tempos. Aos 67 anos, o pediatra francês Jérôme Lejeune, responsável, entre outras coisas, pela descoberta do vínculo entre a trissomia do cromossomo 21 e a síndrome de Down, havia perdido a batalha contra um câncer de pulmão. Associações médicas e autoridades políticas correram para emitir notas lamentando a perda do cientista. Mas nem todas as mensagens recebidas pela família Lejeune naquela manhã tinham tons formais. Algumas eram declarações pessoais de apreço e devoção pelo trabalho do médico. Uma, já no dia 3 de abril, pedia até sua canonização. Assumidamente católico em um ambiente pouco amistoso à religião e notoriamente contrário ao aborto, Lejeune mostrou, de forma prática, que o convívio entre fé e ciência era possível. “Ele usou sua imensa inteligência a serviço tanto do homem quanto de Deus”, disse o bispo Jerome Beau, vigário-geral da Arquidiocese de Paris.

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Não foi naquele 3 de abril que a causa pela sua canonização começou a correr, mas, em 2007, ela foi formalmente apresentada ao Vaticano e agora, depois de cinco anos de muito trabalho, foi encerrada a chamada fase diocesana, o que faz de Lejeune um servo de Deus. “Reunimos relatos que dão fama de santidade em vida a ele não só na França, mas em toda a Europa e nas Américas”, disse o padre postulador Jean-Charles Nault, responsável pelos trâmites do processo. Nos documentos estão registradas as muitas batalhas do pediatra, sendo talvez a maior delas a defesa da vida humana desde a concepção. “Se um óvulo fecundado não é por si só um ser humano, ele não poderia se tornar um, pois nada é acrescentado a ele”, argumentava.

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CONEXÃO
O geneticista era amigo pessoal do papa
João Paulo II e foi um dos fundadores da Pontifícia 
Academia para a Vida, criada em 1994

Lejeune foi radicalmente contra o uso de sua técnica de diagnóstico intrauterino da síndrome de Down para legitimar o aborto de uma criança deficiente, opção dada com frequência em países onde a prática não é criminalizada. “Há casos de pais que têm que resistir às pressões do médico para não abortar”, afirma Evaristo Miranda, pesquisador da Embrapa, ex-conselheiro da Fundação Síndrome de Down do Brasil e pai de Daniel, hoje com 17 anos e portador da deficiência. “Quando o Daniel nasceu, disseram que ele não andaria, falaria ou estudaria”, diz Miranda. Hoje o adolescente está no primeiro ano do ensino médio e tem um futuro promissor. “Tiramos forças do trabalho religioso e científico de Lejeune para criá-lo”, afirma o pesquisador da Embrapa. Milhares de relatos como esse, além de registros de graças alcançadas por meio da invocação do cientista francês, que foi amigo do papa João Paulo II, foram recebidos e anexados ao conjunto de documentos que, com uma biografia detalhada do médico, estão selados em Roma. Até a canonização há um longo caminho, mas o primeiro passo já foi dado. Em grande estilo.  

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