Até a China condenou. No dia em que a Coreia do Norte surpreendeu o mundo com uma explosão nuclear subterrânea, seu único aliado, o governo chinês, declarou uma "decidida oposição ao teste nuclear". Recebido com aplausos pelos norte-coreanos, o teste da segunda-feira 25 ocorreu a 375 quilômetros da capital Pyongyang, como "parte das medidas para reforçar sua potência nuclear em autodefesa" do país, que desenvolve tecnologia nuclear desde os anos 1960. Reflexo da insistência da Coreia do Norte em exibir seu poderio bélico, o teste repercutiu de forma negativa em todo o mundo. Ainda assim, o regime de Kim Jong-il passou a disparar mísseis de curto alcance, que caíram no Mar do Japão. Até a quinta-feira 28, foram seis artefatos.

Nas imediações, o Japão foi o primeiro país a apelar à Organização das Nações Unidas (ONU) para aplicar com maior rigor sanções decretadas no passado recente contra o vizinho belicoso. Da fronteira norte veio o alerta do presidente russo, Dimitri Medvedev, de que "os autores da decisão de realizar um teste nuclear arcam com responsabilidade pessoal ante a comunidade internacional". Nos EUA, aliados de primeira hora da Coreia do Sul, o presidente Barack Obama considerou a postura norte-coreana como uma "ameaça para a paz e a segurança internacionais". Na sequência, a Coreia do Sul aderiu à campanha americana de combate ao tráfico de armas de destruição em massa que permite a abordagem de navios e aviões considerados suspeitos.

A Coreia do Norte, por sua vez, recebeu a adesão do vizinho e arquiinimigo à campanha americana como uma "declaração de guerra", porque violaria os termos do armistício assinado depois da Guerra da Coreia, em 1953. Na quarta-feira 27, o governo de Kim Jong-il declarou o armistício nulo, o que causou grande impacto na região. Na Coreia do Sul, soldados foram deslocados para a fronteira norte e a população está sendo treinada para um possível conflito. Caso a Coreia do Sul seja atacada, Japão e EUA já se comprometeram a cerrar fileiras a seu lado.

A provocação do regime de Kim Jong-il é analisada pelo embaixador Marcos Azambuja, integrante do Conselho Brasileiro de Relações Internacionais, como uma forma de sinalizar para o mundo que uma intervenção no país teria um preço alto. "O regime de Kim Jong-il também pode estar fazendo uma chantagem internacional com a ameaça nuclear para extrair concessões e, por fim, pode estar ocorrendo uma manobra política interna pelo poder." Kim Jong-il sucedeu seu pai, Kim II-sung – fundador e líder da Coreia do Norte por mais de quatro décadas – e está há 15 anos no poder. Doente, está prestes a escolher o sucessor entre seus três filhos.

O aumento da tensão na península coreana levou o Itamaraty a suspender a inauguração de uma embaixada na Coreia do Norte.

"O Brasil surgiria, e eu pretendo ainda que surja, como um proponente do diálogo", disse Arnaldo Carrilho, embaixador designado para Pyongyang. Já os EUA cada vez mais marcam seu distanciamento do país e reforçam a aliança com a Coreia do Sul. Tanto que, na quinta-feira 28, a secretária de Estado americano, Hillary Clinton, compareceu à embaixada sul-coreana em Washington, para homenagear o presidente Roh Moo-Hyun (2003-2008), que, em meio a denúncias de corrupção, morreu no sábado 23, ao se atirar num precipício.

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