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PODER E OUSADIA
Na última semana, Alves ajudou a obstruir a votação da Lei Geral da Copa

Os sobressaltos políticos vividos pelo governo no Congresso nas últimas semanas têm vários responsáveis. E seria uma tarefa hercúlea ousar apontá-los com precisão cirúrgica e sem cometer injustiças. Mas poucos políticos personificam tão bem a crise na relação do governo com a base aliada como o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). O deputado é a cara de uma prática política, baseada no fisiologismo, que a sociedade não tolera mais. Representa um grupo de parlamentares que insiste em transformar em moeda de troca projetos decisivos para o País. E, para terem seus interesses atendidos, esses políticos lançam mão da chantagem. Isso não seria uma ameaça às boas maneiras republicanas se Alves não tivesse poder. Mas o problema é que ele tem. Muito. E demonstrou isso durante a última semana, quando interferiu diretamente no adiamento das votações no Congresso. Na quarta-feira 21, atuando como porta-voz de uma ala empenhada em pressionar por cargos e verbas públicas, como condição para manter a fidelidade ao governo Dilma Rousseff, Alves ajudou a orquestrar a obstrução da sessão plenária que votaria a Lei Geral da Copa e discursou afirmando, com cara de anjo, que sua atitude era um “bem que faria ao governo pelo risco de derrota iminente”.

O discurso de Alves agradou aos deputados da base aliada e funcionou como palavra de ordem da semana marcada por derrotas do governo no Parlamento. A maioria delas trazia as digitais do líder do PMDB na Câmara, que só tem olhos para sua candidatura à presidência da Casa no próximo ano. Entre os projetos de interesse do governo e seu sonho de poder, prevalece a preocupação em conquistar apoio dos colegas para suceder Marco Maia no comando da Câmara. “Acho que essas atitudes do líder refletem a pressão que ele sofre da nossa bancada. Não é pouco ter mais de 50 deputados insatisfeitos. Esses parlamentares o levam a reagir contra o governo e ele tem de agir como quer a maioria”, avalia Aníbal Gomes (PMDB-CE). Na verdade, Alves, em seus 40 anos de vida parlamentar, habituou-se como poucos a fazer o jogo fisiológico. O líder do PMDB se diz pressionado pelas bases, mas, na prática, é dele que partem as maiores pressões contra o Planalto. Mas Alves não age sozinho. Ao seu lado, atua com grande desenvoltura Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um político com tentáculos em cargos de segundo escalão e disposto a declarar guerra para garantir seu latifúndio. Outro aliado de peso nas artimanhas para intimidar o Planalto é o deputado Danilo Fortes (PMDB-CE), que comandou por três anos a Fundação Nacional de Saúde por indicação de Alves. Fortes tomou a frente dos discursos e, num movimento combinado com o líder do PMDB, articulou o manifesto dos peemedebistas contra o governo, lançado há duas semanas. Foi dele a iniciativa de conversar com os políticos do baixo clero, medir o nível de insatisfação e fazer as ameaças de retaliações. “O movimento é conjunto e todos acham que não é mais possível aceitar o tratamento recebido pelo governo até agora”, diz Fortes. Com seu colega dando a cara para bater, Alves pode ficar na retaguarda e orquestrar a rebelião sem precisar levantar a voz. Combate na penumbra, numa estratégia digna de quem conhece bem as entranhas do poder. Mas as digitais do peemedebista já foram muito bem identificadas pelo Palácio do Planalto. “Por isso, escalamos Arlindo Chinaglia para assumir a liderança do governo na Câmara. Para lidar com Alves e sua turma, só outro trator como Chinaglia”, confidenciou um senador aliado.

Assim como o líder do PMDB, outros parlamentares, adotando semelhante modus operandi, tentaram colocar a faca no pescoço do governo nos últimos dias. O objetivo é o mesmo: conseguir cargos e verbas no ano eleitoral, quando precisam agradar às suas bases políticas. Como a presidenta Dilma resolveu não ceder, o resultado foi a suspensão da pauta de votações. “Os partidos que apoiaram a eleição da presidenta Dilma têm legitimidade para querer ocupar espaço no governo, para poder estar à frente das decisões”, disse o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), considerando normal a onda de chantagem instaurada no Congresso. Diante do impasse, o Planalto decidiu empurrar todas as votações para depois da Páscoa e assim ganhar tempo para as negociações. Estão postergadas as votações de projetos importantes como a Lei Geral da Copa, o Fundo de Previdência Complementar dos Servidores, as mudanças nas regras de divisão do Fundo de Participação dos Estados, além do polêmico Código Florestal. Este, por sinal, tem causado um grande desgaste entre Alves e a presidenta Dilma. Ela reclamou a assessores que o líder peemedebista estava atrapalhando as negociações na Câmara, apesar de ter discutido e apoiado o texto costurado no Senado.

Em reunião com 29 grandes empresários na quinta-feira 22, a presidenta partiu para uma nova estratégia. Pediu que eles pressionassem o Congresso pela aprovação de projetos que contribuam para o crescimento da economia. E recebeu uma resposta positiva. Ao deixar a reunião, que durou pouco mais de quatro horas, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, resumiu a afinação dos empresários com o Planalto. “Vamos apoiar todos os projetos de interesse do Brasil. Não é um apoio ao governo nem a uma pessoa. É apoio ao povo brasileiro”, disse ele. A entrada dos empresários nas negociações com o Congresso é, sem dúvida, um trunfo de peso. Afinal, as grandes empresas são fontes de financiamento de campanhas políticas, e o País começa a se preparar para as eleições de outubro. A presidenta Dilma conta exatamente com o calendário eleitoral para enfrentar a ala mais fisiológica do Congresso sem precisar se curvar às suas exigências.

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