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GOLPE
Paulo Sodré, Pelé, Joca Conrado (em pé), Paulo Marinho e o
policial angolano Tony Silva: casas vendidas, mas não entregues

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, manteve negócios com um empresário condenado pela Justiça brasileira. Como revelou ISTOÉ na semana passada, o Rei do Futebol fez propaganda e se disse sócio de um grupo de quatro empresários brasileiros acusados de aplicar um grande golpe imobiliário em Angola. O líder desse quarteto, Antonio Paulo de Azevedo Sodré, já foi indiciado pelas polícias Federal e Civil paulista por contrabando e estelionato, além de responder a dezenas de processos na área cível por fraudes relacionadas à importação de avestruzes.

Habitué de tribunais na qualidade de réu, Paulo Sodré já foi condenado pela Justiça paulista por infringir a Lei de Crimes Ambientais. A pena consistia em prestar serviço comunitário à Escola Estadual Senador Adolfo Gordo, em São Paulo, mas o Ministério Público descobriu que ele não comparecia ao local e fraudava os atestados de frequência. No dia 22 de agosto de 2008, data em que deveria estar no colégio público, Sodré viajou para a Espanha e assistiu ao GP da Europa de Fórmula 1, na cidade de Valência. “Efetuei muito mais benfeitorias na escola do que o estipulado na pena”, afirma Sodré. Na viagem à Europa, ele estava acompanhado de Paulo Marinho e Joca Conrado, seus sócios na Build Angola. O quarto integrante do grupo é Ricardo Boer Nemeth.

Apesar desse histórico, Sodré navegou no Pelé’s Cruise, o cruzeiro promovido pelo ex-jogador, entre os dias 28 de junho e 5 de julho de 2009, que partiu da cidade de Veneza em direção às Ilhas Gregas e à Croácia. Três meses depois, Pelé aportava em Luanda, para estrelar comerciais e dar entrevistas se dizendo sócio da Build Angola, marca pela qual o grupo brasileiro lançou os projetos Bem Morar e Quintas do Rio Bengo, cujos preços das unidades variavam entre US$ 100 mil e US$ 1 milhão. Nenhuma casa foi entregue. Quando as obras do Bem Morar e do Quintas do Rio Bengo começaram a sofrer atrasos, a direção emitiu uma carta de esclarecimento afirmando que o “senhor Edson Arantes do Nascimento (o jogador Pelé) continua sócio do empreendimento”. Hoje, o staff de Pelé e a Build Angola negam a sociedade.

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MANOBRA
Paulo Sodré (à esq.) em GP da Espanha no dia em que deveria cumprir pena no Brasil

Sodré contava com amizades influentes no governo de Angola, um país acossado pela corrupção, para tocar seus negócios com segurança. Era íntimo de um chefe de polícia local, Tony Silva, e de Aguinaldo Jaime, ex-presidente da Agência Nacional para o Investimento Privado, acusado de tentar desviar US$ 50 milhões do erário do país africano para uma conta particular nos Estados Unidos. Cada venda concretizada de um imóvel milionário era comemorada pela turma brasileira com regabofes nababescos. “Eles chegavam nos melhores restaurantes de Luanda e mandavam abrir quatro, cinco garrafas de champanhe”, conta Marcos Regina, ex-sócio, que afirma ser um dos prejudicados pelo grupo.

O quarteto brasileiro não prejudicou apenas a classe abastada de Angola. O primeiro empreendimento deles, Casa Forte, lançado em meados de 2008 e voltado para a classe média, também não foi concluído. A família do tenente do Exército angolano Simão Henriques pagou US$ 87 mil, metade do valor de cinco casas, que nunca foram construídas. Para reaver o dinheiro, o militar tomou uma atitude extrema. Trajando a farda, e de porte de uma metralhadora, entrou em um dos escritórios da Build exigindo o dinheiro de volta. Rapidamente, o diretor Paulo Marinho autorizou o reembolso. “Paulo Sodré e Paulo Marinho são dois ladrões. Se eu não fizesse isso não teria meu dinheiro de volta”, afirma o militar angolano. “Entregamos 89 casas”, diz Marinho.

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NEGOCIATA
Casa Forte, o primeiro condomínio em Angola: nenhuma unidade entregue

Para justificar o não cumprimento dos contratos, Sodré acusou o ex-sócio Werther Mujjali de criar uma campanha de difamação na internet que teve como consequência a paralisação dos pagamentos dos clientes angolanos e a inviabilização das obras. “Mandei e-mails para a sociedade angolana em meu nome, alertando que tipo de pessoa ele (Sodré) era”, declarou Mujjali. Na semana passada, ele obteve decisão favorável na Justiça de São Paulo que impede Sodré de usar a marca Build. A decisão cabe recurso. “Há indícios de que houve uma fraude cometida contra cidadãos angolanos por esses empresários brasileiros. Até mesmo quem fez publicidade desses projetos sabendo que era enganosa poderá ser responsabilizado”, avisa o diretor da Polícia Econômica de Angola, Alexandre Canelas, que abriu inquérito sobre o caso. Resta saber quanto Pelé também foi enganado.

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