Fotos: Marcelo Mondini/Ag.ISTO É; Divulgação

Bruna Felisberto Antes da cirurgia (à esq.) e depois: quatro cirurgias corretivas

Desde a popularização das cirurgias estéticas no Brasil, a preparação das candidatas a Miss Brasil não se limita apenas aos salões de beleza, aulas de etiqueta e academias de ginástica. Inclui os centros cirúrgicos. Diante da possibilidade da fabricação de uma mulher monumental na ponta do bisturi, as pequenas imperfeições humanas não mais se justificariam. O modelo estético impecável está definido desde que a perfeição padronizada chegou ao alcance de (quase) todos e oferecida por (muitos) médicos, especializados ou não. Cintura fina, corpo magérrimo, seios fartos, cabelos longos e anelados, maçãs do rosto salientes, lábios carnudos e, principalmente, nariz afinado e pequeno.

Convencida a aperfeiçoar o que já era belo, a gaúcha Bruna Felisberto, 22 anos, eleita Miss Rio Grande do Sul no ano passado, não teve dúvida. Decidiu retocar o nariz e colocar um fim aos traços indígenas e africanos que marcam o seu belo visual brasileiro. “O meu preparador disse que, se eu quisesse vencer, deveria mudar o nariz”, diz ela, em referência ao missólogo Evandro Hazzy, responsável pela supremacia gaúcha no concurso nacional – nos últimos dez anos, o Estado emplacou seis gaúchas como Miss Brasil. “Nunca quis mudar o meu nariz original. Pelo sonho de me tornar miss, segui as orientações dele.” Segundo ela, Hazzy organizou toda a negociação com o cirurgião plástico Nelson Heller, médico conhecido por operar misses de graça.

A rinoplastia aconteceu em 12 de junho do ano passado. Após 30 dias com ataduras no rosto, pontos cirúrgicos e narinas inchadas, a gaúcha finalmente pôde ter uma noção mais definida do resultado final – uma cicatriz funda no dorso do nariz, formato lombado semelhante a uma cela de cavalo e ponta arrebitada em 160 graus. “Foi um baque”, conta Bruna, que começou a ter dificuldades para respirar. “Todos os dias, me olhava no espelho e estava sempre horrível. Não me reconhecia”, diz. A miss decidiu recorrer a outros médicos. “Nenhum deles queria mexer no meu nariz porque o procedimento havia sido feito por outro profissional”, conta. A sua única opção seria retornar à clínica do dr. Heller, onde enfrentou uma nova intervenção em 1º de setembro.

Depois da segunda cirurgia, o nariz ficou minúsculo. Nos fóruns de discussão sobre modelos, ela já era conhecida como Bruna Jackson, em referência ao cantor Michael Jackson, de nariz igualmente arrebitado. O reinado da miss – que deveria ser farto de eventos sociais, campanhas publicitárias e desfiles – foi um deserto. “Fiquei reclusa, não conseguia sair de casa”, diz ela.

Em abril, Bruna procurou outro cirurgião, fez uma nova rinoplastia e conseguiu recuperar 30% do volume do nariz. “Ela é a terceira miss operada pelo Heller que nos procura para consertar os erros”, afirma o cirurgião plástico Denis Valente, que, além de Bruna Felisberto, socorreu Natália Anderle e Bruna Jaroceski, também decepcionadas com as intervenções de Heller. No dia 9 de maio, Bruna ficou em sexto lugar no esperado concurso de Miss Brasil. “Não esperava ganhar. Minha autoestima estava no chão”, revela a gaúcha. “Se pudesse voltar no tempo, jamais mexeria no meu nariz.” Heller se diz surpreso com a insatisfação da paciente: “A cirurgia foi perfeita, não há nada de errado”, defende-se. Bruna ainda terá de passar por duas outras cirurgias corretivas para melhorar o aspecto do nariz.

Fotos: Marcelo Mondini/Ag.ISTO É; Divulgação