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CONFLITO
Depois dos 50, as expectativas de homens e
mulheres ficam muito diferentes, por isso as separações

Quando Verônica Guimarães conheceu seu ex-marido em 1974, aos 15 anos de idade, pensou que eles ficariam juntos para sempre. A ideia de envelhecer ao lado do companheiro, quatro anos mais velho, e criar filhos e netos juntos parecia o único caminho possível para a secretária carioca, hoje com 53 anos. O que na época Verônica não poderia imaginar era que 38 anos depois – 27 vividos sob o mesmo teto – o casamento dela chegaria ao fim. Separada desde 2008 do ex-marido, ela oficializou o divórcio em março. “O tempo foi desgastando a relação, então decidimos seguir cada um para um lado”, conta. A única filha do casal, de 28 anos, apoiou a decisão. “Foi difícil recomeçar a vida depois de tanto tempo com uma mesma pessoa. Mas fiz essa escolha de forma consciente e hoje estou muito mais feliz”, diz.

Histórias como a de Verônica estão se tornando cada vez mais comuns no País. Após décadas de casamento, casais que hoje estão na faixa etária dos 50 anos ou mais têm optado por romper uniões desgastadas em busca da felicidade – que pode ser encontrada tanto na solidão como numa nova relação. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de divórcios concedidos em primeira instância a casais em que pelo menos um dos cônjuges tem mais de 50 anos quase dobrou desde 1990 (leia quadro). Nos Estados Unidos, o fenômeno é ainda maior. Há 20 anos, uma em cada dez pessoas que se divorciavam por lá tinha mais de 50. Em 2009, esse número havia pulado para um divorciado cinquentão em cada quatro. E estima-se que, em 2030, ao menos 800 mil americanos com mais de 50 entrarão com pedidos de divórcio. Resultado, segundo dizem os especialistas, do aumento da expectativa de vida tanto nos Estados Unidos quanto aqui no Brasil.

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CORAGEM
Marlene, 57 anos, pediu a separação após 31 anos de casada.

“Foi meu grito de liberdade”, diz

Para a antropóloga Mirian Goldenberg, que atualmente estuda a relação dos brasileiros e brasileiras com o envelhecimento, o fim dos casamentos entre pessoas com mais de 50 acontece por um descompasso entre homens e mulheres nessa faixa. “Depois de criar os filhos e de ter se dedicado durante anos à família, as mulheres com mais de 50 querem sair, passear, viajar”, diz Mirian. “Já os homens cinquentões e sessentões não têm mais a mesma energia e preferem ficar em casa assistindo à tevê.” Essa diferença de interesses foi o que motivou a professora aposentada Marlene Valença, 57 anos, a pedir a separação do ex-marido, que hoje tem 63 anos. Afastado há oito meses, o casal viveu junto durante 31 anos e teve dois filhos. “Nunca pensei em terminar, mas a situação foi ficando insustentável, então tomei coragem e pedi a separação”, conta Marlene. No pouco tempo em que está provando o gosto de ser uma mulher separada, Marlene diz ter encontrado só felicidade. Ela tira prazer das aulas que dá como instrutora de ginástica rítmica japonesa e das sessões no Coral Sintonia Plena, em que canta com mais trinta pessoas – a maioria mulheres – que também já passaram dos 50. “Pedir a separação foi um grito de liberdade e hoje me sinto mais feliz e aliviada”, diz.

Nem sempre, porém, terminar um relacionamento tão longo é uma tarefa fácil ou de comum acordo. O desembargador Francisco Antonio Bianco Neto, 57 anos, passou parte da vida julgando processos de divórcio e separação como juiz de família na capital paulista. Ele só não contava que um dia seria parte de um caso desse tipo. Após permanecer 22 anos casado e ter se tornado pai de gêmeas, Neto pediu o divórcio, sem a concordância da ex-esposa. Agora eles brigam na Justiça por questões financeiras e patrimoniais. “Está sendo muito difícil, mas não me arrependo”, diz Neto. “Ficar preso a uma relação, que não é mais desejada, só porque você acredita que é responsável pela felicidade do outro é uma loucura.”

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RECOMEÇO
Verônica, 57 anos, e João Balthazar, 65,
descobriram um novo amor depois do divórcio

Na opinião do psicólogo Fernando Elias José, toda separação tem seu lado negativo. “Mas a desunião de casais com uma longa história já não é mais vista com tanto preconceito pela sociedade”, diz. Nesses casos, o especialista aconselha a pessoa que deseja se divorciar a avaliar os prós e contras da relação, estar o mais certa possível da decisão e buscar apoio nos amigos e na família. “Não é uma mudança simples, mas vale a pena se a pessoa tiver mais 15 ou 20 anos de vida feliz, seja com um novo amor ou não”, diz. A secretária Verônica faz parte do grupo de divorciados depois dos 50 que já embarcaram numa nova relação. Desde a separação do ex-marido ela vive com o odontólogo João Balthazar, 65 anos, também divorciado há três anos. Juntos eles gostam de aproveitar a vida e sair para dançar. “Nos damos muito bem e a expectativa é vivermos essa união o máximo possível, enquanto houver amor”, diz Balthazar.

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