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A ideia é tão simples que parece tola. Em uma tela de iPhone, formigas de variados tamanhos cruzam o celular freneticamente e tudo o que o jogador precisa fazer é esmagar os insetos com a ponta do dedo. Viciante, o aplicativo Ant Smasher foi baixado por 30 milhões de pessoas de diversos países – e fez de seu criador um milionário. Desenvolvido há menos de dois anos pelo paulista Guilherme Schvartsman, o passatempo não custa um centavo sequer para ser baixado pelos usuários. O lucro vem da publicidade estampada na tela do jogo. Sozinho, o Ant Smasher rende US$ 3 milhões por ano, mas isso é pouco perto do que pode vir adiante. Dono da Best Cool & Fun Games, empresa que tem no portfólio uma centena de aplicativos, Schvartsman recusou no ano passado uma oferta feita por uma gigante internacional interessada em comprar sua companhia. O valor da proposta: US$ 50 milhões. “Não aceitei porque o potencial de crescimento da Best Cool é muito grande”, diz o empresário. Aos 24 anos, Schvartsman é o retrato preciso da nova geração de empreendedores ligados à tecnologia mobile que faz dinheiro a uma velocidade impressionante. Em abril de 2010, deixou o estágio em um banco e desembolsou R$ 5 mil para abrir a Best Cool. Hoje, é impossível dimensionar o real valor de seu negócio, mas os US$ 50 milhões que ele não quis dão uma pista da fortuna que está em jogo.

Para criar a Best Cool, Schvartsman se inspirou na história dos irmãos croatas Igor e Marko Pusenjak, inventores do Doodle Jump, aplicativo em que se deve levar a criatura pulante Doodle até uma plataforma, mas sem deixá-la cair. Em um ano, foram vendidos 3,5 milhões de cópias do jogo na App Store (loja virtual da Apple), o que fez dos croatas os primeiros milionários dessa indústria. Também ficou famoso o caso do americano Adam Cahan, desenvolvedor do aplicativo IntoNow, uma espécie de rede social que compartilha, em tempo real, os programas de tevê vistos pelos usuários. Cahan vendeu seu negócio ao Yahoo por US$ 30 milhões – e isso apenas três meses após a sua criação, o que dá algo como US$ 33 mil por dia trabalhado. Engenheiro de produção formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Schvartsman adotou na Best Cool o estilo consagrado por empresas como Google e Facebook, que viraram o mundo corporativo do avesso. Seu escritório, em um prédio no centro de São Paulo, é simples e despojado. Os 20 funcionários fogem dos padrões adotados nas empresas convencionais. A começar pelo dono, que nem sequer tem secretária e costuma dar expediente de bermuda, camiseta e chinelo de dedo. Para estimular sua equipe, Schvartsman criou um programa de remuneração participativa. “Em cada projeto trabalham de 3 a 4 pessoas e elas recebem de acordo com o retorno financeiro do aplicativo”, diz. Ou seja: se um “app” (como os aplicativos são chamados nesse mercado) faz sucesso, todo mundo ganha e não apenas o dono da empresa. ]

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A indústria de aplicativos é resultado da mente criativa de um único homem: Steve Jobs, que em 2008 teve a ideia de lançar uma loja virtual para vender programas específicos para rodar no iPhone. Desde então, o setor contribuiu para a criação de cerca de 500 mil empregos nos Estados Unidos e se consolidou como um negócio que, apenas em 2011, faturou US$ 20 bilhões no país. Existem hoje mais de 550 mil “apps” disponíveis na App Store e 450 mil no Android Market (loja virtual do sistema operacional Android, que pertence ao Google), e o número de downloads ultrapassa 1 bilhão por mês em cada uma delas. No Brasil, não existem dados disponíveis a respeito do dinheiro gerado por esse novo segmento, mas alguns indicadores demonstram a sua força. Em 2011, as vendas de smartphones cresceram 179% por aqui. Detalhe: a maioria dos usuários desses aparelhos é consumidora voraz de aplicativos.

A vocação dessa indústria é global. Fundada por três amigos durante uma reunião no saguão do Aeroporto de Congonhas, a brasileira Mowa comemorou em fevereiro a conquista de seu primeiro cliente na Arábia Saudita. “Criamos uma plataforma que permite a qualquer pessoa construir o seu próprio aplicativo gratuitamente”, diz Guilherme Santa Rosa, 31 anos, sócio da empresa. O usuário árabe é um blogueiro de carros que decidiu levar sua página para mais usuários e o jeito encontrado foi desenvolver um aplicativo com a ajuda da Mowa. A empresa estima faturar R$ 17 milhões em 2012 – um expressivo salto de 50% sobre 2011. Atualmente, conta com 37 funcionários baseados em dois escritórios: um em São Paulo, que atende, entre outros clientes, a butique de luxo Daslu, e outro no Rio, onde fica uma unidade concentrada em esportes que cuida da inserção mobile da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Até agora, 5 mil aplicativos surgiram graças à nova plataforma, mas a empresa espera atingir a impressionante marca de 100 mil até o fim do ano. Como a Mowa, a i2 Mobile foca seu negócio no mercado corporativo. A empresa, que nasceu em 2006 como incubada do Instituto de Tecnologia de Pernambuco, produz aplicativos para gigantes como Nestlé, Tim e Nívea. Sediada em Recife, ela é um exemplo das novas fronteiras econômicas abertas no Brasil. “Temos recebido vários currículos de estrangeiros”, diz Luciano Ayres, 31 anos, fundador e diretor de negócios da i2 Mobile. “São italianos, ingleses, americanos que querem se mudar para cá.”

Embora recente, o mercado de aplicativos passa por um dinamismo semelhante ao observado em setores tradicionais. Hoje, fusões e aquisições são cada vez mais comuns no segmento mobile. O grupo .Mobi surgiu após a aquisição de cinco pequenas empresas (Aorta, FingerTips, Hands, MonsterJuice e Instituto Mobile) e, assim, se tornou o principal conglomerado de marketing e publicidade móvel da América Latina. “Como esse é um mercado em formação, é difícil encontrar profissionais qualificados”, diz João Carvalho, 29 anos, sócio e diretor de negócios da .Mobi. “As empresas que mais se destacavam ficavam em nosso radar até que partimos para as compras.” Carvalho afirma que todas as companhias adquiridas cresceram em faturamento e em número de projetos colocados no mercado. Segundo ISTOÉ apurou, as vendas da .Mobi ficaram em R$ 30 milhões em 2011, alta de 80% sobre 2010. Há um ano, a empresa tinha 50 funcionários. Hoje, são 240 estabelecidos em cinco escritórios no Brasil (São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Recife e Rio de Janeiro) e um em Londres, aberto em fevereiro do ano passado. “Independentemente do percentual da população com smartphones, o número absoluto do mercado brasileiro é muito expressivo”, diz Michel Lent, vice-presidente de estratégia da .Mobi. Segundo dados divulgados na semana passada pelo instituto IDC, há 10 milhões de smartphones em operação no Brasil, mais do que a população inteira de muitos países da Europa. A continuar nesse ritmo de crescimento, os smartphones vão ultrapassar, em breve, o total de computadores existentes no mercado brasileiro. Por si só, isso explica por que essa turma vem ganhando um dinheiro pesado – e deve faturar muito mais no futuro próximo.

 

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Claro, existem dificuldades no caminho. Como consequência do baixo investimento inicial e da facilidade de entrada, consolidar uma liderança é tarefa praticamente impossível. O próximo gigante da indústria pode estar nascendo agora no computador de um desenvolvedor independente. O comportamento do consumidor mobile também é diferente do cliente que acessa a internet por um dispositivo fixo. Os usuários de smartphones são ainda mais imediatos. No Dia dos Namorados americano, comemorado em 14 de fevereiro, 60% das buscas por flores no Google vieram de sua versão móvel. “São milhões de pessoas procurando presente no último minuto e que usam o GPS do celular para encontrar a loja mais próxima”, diz Peter Fernandez, diretor de publicidade móvel do Google para a América Latina. A geolocalização é uma mudança sensível em relação ao usuário do computador. Por mais que o endereço do IP indique que o internauta está no Rio de Janeiro, por exemplo, o celular diz em que rua ele está e em qual direção segue. Essa informação em tempo real é preciosa para os anunciantes.

Com vista nesse mercado, o Google adquiriu, em 2009, a rede de publicidade móvel AdMob por US$ 750 milhões. Fernandez era então um dos fundadores da empresa. Hoje, afirma que seu papel é ajudar os desenvolvedores a ganhar dinheiro. “Eles querem focar em criar novos aplicativos e não em vender anúncios”, diz. A AdMob comercializa espaços em mais de 100 mil aplicativos e atende clientes como Ford, Coca-Cola e P&G. Em janeiro, a rede atingiu 1,6 bilhão de acessos, um avanço de 186% sobre o ano passado. A cada receita gerada por anúncio, 40% ficam com a AdMob. O potencial é tamanho que, no mês passado, Google e Apple reduziram os preços de suas ofertas de publicidade móvel em resposta às investidas do Facebook e do LinkedIn nessa área.

 

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O fortalecimento do mercado brasileiro estimulou o surgimento de encontros como o The App Date, realizado no fim de fevereiro, em São Paulo. “Queremos formar uma rede de desenvolvedores em várias cidades do Brasil”, diz Pedro Berti, organizador do evento. O local em que foi promovido o The App Date é também sede da MobiHouse, empresa criada em 2011 pelo paulista Noel Rocha, de 26 anos. Somados, os downloads dos três aplicativos desenvolvidos por Rocha já estão em mais de três milhões de dispositivos. O sucesso do Portabilidade Fácil, que informa a qual operadora pertence cada número de telefone, fez com que redes de restaurantes, academias e até a montadora Audi procurassem o empreendedor para que ele desenvolvesse aplicativos para suas empresas. Como resultado, no último trimestre, a MobiHouse cresceu 130% e espera chegar a seu primeiro R$ 1 milhão no fim de 2012. “Atualmente nosso faturamento vem 100% de serviços mobile para nossos clientes, ou seja, aplicativos feitos sob demanda ou licenciados para empresas”, afirma Rocha. “Mas a ideia agora é ganhar dinheiro também com produtos. Afinal, a gente gosta de criar e não de ficar negociando.”

 

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