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CIAAR
Relatório de fiscal mostra pagamentos feitos para
empreendimento ainda inacabado, em Belo Horizonte

Em fevereiro de 2010, o então presidente em exercício José Alencar fez um discurso emocionado no lançamento da pedra fundamental do Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (Ciaar), em Belo Horizonte. No evento, Alencar disse que a obra do principal centro de formação de oficiais da Força Aérea Brasileira era um exemplo de retorno não material que a vida pública estava dando a ele, um mineiro orgulhoso das suas origens. Dois anos se passaram desde aquele dia e o cenário da obra é bem diferente das expectativas da época. A construção do complexo de 57 mil metros quadrados triplicou a previsão de gastos inicial e está afundada em processos de investigação no Ministério Público Federal e no Tribunal de Contas da União. ISTOÉ teve acesso ao relatório de um dos fiscais da obra. Quase 100 páginas de documentos e fotografias mostram o descaso com o dinheiro público e detalham fraudes nos pagamentos feitos à empreiteira Schahin, que recebeu por fases da obra que nem sequer tiveram início. O rol de irregularidades fez com que o preço para construir o Ciaar saltasse de R$ 250 milhões para quase R$ 700 milhões.

O Ministério Público de Minas Gerais pediu que a Polícia Federal investigue os motivos que levaram a Aeronáutica a pagar mais de R$ 44 milhões à empreiteira entre novembro de 2010 e janeiro de 2011 por serviços de terraplanagem, embora os documentos da obra tivessem afirmado que o excesso de chuvas nesse período interrompeu os serviços. “Contrariando o que foi declarado no Diário de Obras, foram pagos por esses serviços algo em torno de R$ 27 milhões em novembro e R$ 17 milhões em dezembro de 2010”, ressaltou a fiscal Eliane Garcia. Apesar das observações da especialista, a FAB continuou dando como concluídas fases da obra que nem sequer haviam começado e manteve os pagamentos à empreiteira.

O relatório da fiscal é apenas um dos subsídios das investigações. No TCU, os auditores apuram outros problemas com a obra. Em setembro de 2011, por exemplo, foi identificada a compra de telhas cuja conta ficou em R$ 476 mil, incluindo a instalação. Mas, três meses depois, nenhuma telha havia chegado à obra. As liberações irregulares não param por aí. A empreiteira, que procurada por ISTOÉ não quis se pronunciar, recebeu cerca de R$ 300 mil pelo concreto não colocado, mais de R$ 200 mil pela conclusão de um alojamento que nem reboco havia recebido e outros R$ 100 mil pela alvenaria de um alojamento sem um único tijolo. No próximo dia 19, o TCU fará uma inspeção no local. Quer saber por que tem havido tanta boa vontade dos militares com a empreiteira.  

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