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No livro “Jornalismo e Desinformação”, o jornalista Leão Serva explica que a desinformação funcional corresponde a um fenômeno definido pelo fato de as pessoas consumirem informações por intermédio de um ou mais meios de comunicação, mas não conseguirem compor com estas uma compreensão do mundo ou dos fatos. Em tempos de Google, quando um fato pode ser visualizado desde inúmeros pontos de vista a partir de alguns cliques, a desinformação funcional parece ser o que efetivamente está regendo o estado das coisas. “Estamos fundando uma sociedade da informação disfuncional: a realidade se faz ilegível; e as artes visuais, invisíveis”. Com essa declaração, o artista uruguaio Marco Maggi desloca a discussão para o campo da arte contemporânea.

Na exposição “Desinformação Funcional, Desenhos em Português”, Maggi – um dos artistas mais importantes da cena contemporânea uruguaia – apresenta trabalhos em alumínio, papel e acrílico para uma espécie de cartografia para a sociedade da desinformação. A instalação “Incubadora” (foto), por exemplo, é composta de pilhas de folhas de papel que contêm desenhos de formas abstratas lembrando códigos. O papel ocupado com uma informação ilegível e empilhado de maneira excessiva serve de metáfora para pensar esse excesso de informação inavegável no qual nos afogamos diariamente. Mas, para além da questão da sociedade da informação, Maggi também quer repensar o uso do papel como suporte físico para a comunicação. “O trabalho de Marco Maggi vem liberar o papel desse tratamento inconsequente. Interessa-lhe o papel-padrão e vulgar que será transformado em um campo de surpresas”, declara o curador Agnaldo Farias em texto escrito para a mostra.

Mídias obsoletas, como projetores de slides, também aparecem como símbolos da substituição que as tecnologias de comunicação sofrem de modo vertiginoso para se tornar mais eficientes. Os slides, que um dia transmitiram imagens por meio da película – e hoje foram substituídos pelas mídias digitais –, são transformados em objetos artísticos. Deslocados de sua função original, foram convertidos em molduras para impressões em folhas de alumínio. A mostra tem trabalhos produzidos entre 2008 e 2012. É uma boa oportunidade para conhecer esse artista latino-americano, que vive na ponte área entre Montevidéu e Nova York.