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AUTOESTIMA
No Paquistão, o médico recuperou o rosto de Zakia

Nascido em Karachi, centro financeiro do Paquistão, o cirurgião plástico, 54 anos, que hoje mora em Londres, há quatro anos desconhecia que, em seu país, centenas de mulheres agonizavam em dor física e psíquica após terem seus rostos e corpos desfigurados por maridos ciumentos ou pretendentes rejeitados. Atualmente, viaja da Inglaterra à terra natal a cada três meses com a missão de restaurar a face dessas vítimas. Sua história virou filme – “Saving Face” –, ganhador, na última semana, do Oscar de melhor curta-documentário. “Espero que as pessoas entrem em contato com essa dura realidade”, disse Jawad à ISTOÉ. “Deformadas, com uma aparência monstruosa, essas mulheres perdem a porta de comunicação com o mundo.”

Os ataques são feitos com os ácidos nítrico e sulfúrico. Os produtos derretem a pele e não raro condenam suas vítimas à cegueira permanente (leia mais no quadro). Jawad recuperou o rosto de mais de 40 mulheres – em média, cada uma se submete a 30 procedimentos, que podem incluir transplante de pele e o uso de biomateriais.

Duas delas têm seus dramas retratados no documentário. Zakia, 39 anos, foi atacada pelo ex-marido. Rukhsana, 25 anos, pelo marido. Ambas lutam para que os agressores sejam presos. No Paquistão, porém, a lei não é clara sobre a punição a esse tipo de ataque. Se condenados, os homens não ficam mais do que cinco anos presos. Em dezembro de 2011, uma nova lei foi aprovada, prevendo pena de 14 anos. “Mas não sabemos se será aplicada. Por enquanto, temos que interferir da maneira que podemos, fazendo alguma coisa”, diz Jawad. “Zakia já busca o filho na escola sem véu”, comemora.

A história que levou o cirurgião a prestar assistência às paquistanesas começou no Reino Unido, com um caso conhecido. Ele foi o responsável pela recuperação do rosto da ex-modelo britânica Katie Piper, que sofreu ataque por ácido sulfúrico a mando do ex-namorado Daniel Lynch. O médico tornou-se referência em reconstrução da face por queimaduras. Não demorou a ser procurado pela Associação de Sobreviventes de Ataques por Ácido do Paquistão, quando conheceu uma outra realidade de seu país: no cordão de Saraiki, região que reúne grupo étnico islâmico com fortes raízes patriarcais, e longe de onde o cirurgião nascera, cerca 100 mulheres são atacadas por ano. Os dados são oficiais. Já a Associação de Mulheres Progressistas do Paquistão, registrou 7,8 mil ataques num período de 14 anos.

Agora, o médico está empenhado em juntar recursos e voluntários para abrir sua própria fundação. Quer dar formação a cirurgiões locais e combater a prática dos ataques. “Eles representam o extremo da ira humana”, diz.  

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