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O saldo da morte da adolescente de 14 anos Gabriella Yukari Nichimura, que despencou do brinquedo La Tour Eiffel no parque de diversões Hopi Hari na última sexta-feira, deve trazer duras consequências aos administradores do empreendimento. A absurda ocorrência, um claro fruto da falta de investimento e manutenção do parque, é o episódio mais baixo e trágico de uma gestão irresponsável, marcada por falhas e desrespeito aos frequentadores.

Dois anos e meio depois de ter sido vendido pela GP Investimentos aos sócios da consultoria Íntegra por um valor simbólico, o Hopi Hari dos últimos tempos era uma verdadeira terra de ninguém. No dia 20, segunda-feira de Carnaval, dez das 58 atrações estavam fechadas ao público por falhas provocadas pela irresponsável falta de manutenção – que não tinha opção a não ser pagar o preço cheio pelos ingressos. Os insuficientes funcionários, claro, não transmitiam a informação aos clientes na boca do caixa. O não funcionamento dos brinquedos também era omitido no site que comercializa os ingressos ou no serviço de televendas. Enganação pura e simples.

A mãe de Gabriela, Yukay Nychymura, disse ontem (27) em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, que a cadeira onde a filha sentou estava sem uma das fivelas de segurança. Ela diz ter questionado um funcionário sobre a integridade do brinquedo e ouviu que a falta do cinto não era um problema. O parque não confirma a informação e afirma que a investigação a respeito do acidente está “a cargo da perícia”.

No último sábado, mesmo dia em que o corpo da adolescente foi sepultado, o parque abriu ao público normalmente. Como se não bastasse a falta de respeito pelos familiares da vítima, o Hopi Hari não teve pudores ao seguir lucrando com atrações que colocam em risco as vidas de seus clientes.

O parque poderá ser fechado pelo acidente, segundo os advogados Fábio Martins Di Jorge e Juliana Mantuano Meneses, do escritório paulistano Peixoto e Cury Advogados. “Caso fique constatado e provado nos laudos periciais da polícia técnica que ocorreu alguma falha técnica no brinquedo, a Prefeitura de Vinhedo poderá cassar o alvará de funcionamento”, explica Fabio Di Jorge.

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Investigações

O Ministério Público do Estado de São Paulo em Vinhedo vai investigar as causas da morte da adolescente. De acordo com informações do promotor criminal de Vinhedo, Rogério Sanches, o MP trabalhará em duas frentes: uma, de investigação criminal paralela às apurações da Polícia Civil e outra, para analisar consequências e providências do ponto de vista do consumidor. O promotor informou que irá ao parque amanhã, acompanhando um perito do MP. “Que houve negligência me parece evidente. Quero saber em qual nível, grau e momento. Se foi na manutenção do brinquedo ou na fiscalização da segurança”, disse o promotor.

Sanches disse ainda que quer nomes de quem, de forma direta ou indireta, cuida da atração. Quer entender, também, como funciona o brinquedo do qual Gabriella caiu para iniciar o processo de investigação da Promotoria. “Preciso saber a força do impacto, se a garota poderia estar presa e se soltar e como isso seria”, disse.

Segundo Sanches, a promotora Ana Beatriz Sampaio vai analisar o caso do ponto de vista do consumidor, levando em consideração número e capacitação de funcionários, quesitos de segurança, primeiros socorros e questões técnicas do parque, como manutenção. “Ela (a promotora) vai olhar mais para o futuro do que se limitar ao inquérito, ao caso”, informou Sanches.

Nova perícia

Neste sábado o Hopi Hari informou, por meio de nota oficial, que a empresa possui profissionais habilitados pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), que envia representantes para visitas técnicas periódicas ao local. Por meio de assessoria, o parque informou que engenheiros fazem, todos os dias, antes da abertura dos portões, uma vistoria em todos os brinquedos.

Embora a Polícia Técnica tenha feito perícia e testes do brinquedo no dia do acidente, o delegado de Vinhedo, Álvaro Santucci Noventa Júnior, informou que voltará ao parque nesta segunda-feira e nova perícia deverá ser feita nesta semana. O delegado também quer ouvir os pais da menina, funcionários e visitantes.

Três pessoas já prestaram depoimento à Polícia Civil e foram contundentes, segundo Noventa Júnior, em afirmar que a trava abriu durante a queda livre. Não se sabe ainda a causa da abertura do equipamento. Gabriella estava a uma altura entre 20 e 30 metros do chão quando caiu. A garota tinha dupla nacionalidade (japonesa e brasileira), morava no Japão com os pais e uma irmã mais nova e estava em férias com a família na casa de parentes, em Guarulhos.

A menina chegou a ser levada ao Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí, por uma Unidade de Terapia Intensiva Móvel que estava no parque, mas chegou ao município vizinho sem vida. O corpo da adolescente foi enterrado ontem. A Polícia Civil de Vinhedo solicitou a colaboração de visitantes que fizeram imagens de câmeras fotográficas ou telefones celulares para o fornecimento de material que possa ajudar nas investigações.


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