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HOBBY
Vivian com sua câmera Rolleiflex: mais de
100 mil imagens nunca mostradas ao público

Numa época em que a tecnologia digital permite que até uma criança faça fotos de ótima qualidade técnica e, por isso, mostra-se saturada de imagens, uma amadora consegue sair do anonimato e ser alinhada entre os grandes nomes da fotografia mundial. Fala-se aqui da nova-iorquina Vivian Maier e a sua história é ainda mais fantástica porque ela morreu em 2009, aos 83 anos, antes de ser reconhecida pela crítica e pelo mercado de arte. Vivian era uma babá que nas horas vagas saía pelas ruas de Chicago registrando o que lhe chamava a atenção. Em 50 anos de hobby, nunca expôs seu trabalho nem mostrou para ninguém. Agora, exposições dedicadas à sua obra se multiplicam pela Europa e EUA – a mais recente acontece na Steven Kasher Gallery, em Nova York. Nas livrarias americanas, o livro “Vivian Maier – Street Photographer” ganha destaque nos displays de lançamentos, e um documentário sobre sua trajetória está a caminho.

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MODERNA
Arrojada composição com banhistas que capta
o movimento da cena com naturalidade

A descoberta de Vivian deve ser creditada ao bom olho de John Maloof, um corretor de imóveis de 29 anos que no tempo livre também se dedicava a outra atividade: era historiador. Ele estava em busca de imagens que registrassem um subúrbio de Chicago nos anos 1950 quando ficou sabendo que caixas e caixas de fotos desse período estavam sendo leiloadas por um depósito em razão da falta de pagamento. Arrematou o lote por US$ 400, não encontrou o que desejava, mas ficou intrigado com a qualidade do que viu. As fotos tinham como tema recorrente crianças, velhos e mendigos. Mas eram retratos inquietantes, mostrando pessoas dormindo ou em poses prosaicas, por meio de ângulos altamente sugestivos. Enfim, eram retratos que poderiam ter sido feitos por Henri-Cartier Bresson ou Robert Frank, só para ficar em dois mestres da fotografia.

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RETRATO
Desocupado em Chicago: ironia à foto de moda
por meio do anúncio “for rent” (aluga-se)

Maloof tem em sua casa mais de 100 mil fotos da americana e muitos rolos de filme não revelados. Pelo que conseguiu descobrir da trajetória de Vivian, sabe-se que ela era descendente de mãe francesa e pai austríaco e, aos 4 anos de idade, foi com a mãe para a França, vivendo por duas décadas na cidade de Saint-Julien-en-Champsaur. Foi lá que teve contato com a fotografia: uma amiga da família era a retratista Jeanne J. Bertrand. Em 1951, Vivian voltou para os EUA e morou em Nova York e Chicago. Como gostava de fazer autorretratos, é possível saber também a câmera que usava, uma Rolleiflex. E que tirava apenas uma ou duas fotos de uma mesma pessoa. O resto é mistério, assim como os passantes eternizados por seu olhar generoso, de um verdadeiro talento.

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POESIA DAS RUAS
Vivian gostava de retratar pessoas idosas.
Nesta foto, de 1960, a situação beira o surrealismo