Na teologia cristã, o demônio é um
anjo que se rebelou contra Deus para comandar uma legião de querubins do mal. No Brasil, principalmente na Bahia – terra do sincretismo religioso –, o espírito de Lúcifer tem se manifestado na pele de alguns filhos da Igreja. Um deles é o vigário José de Souza Pinto, o padre Pinto – pelo menos na visão da cúpula da Igreja Católica da Bahia. Ele é o famoso sacerdote dublê de bailarino que celebrou uma missa na paróquia da Lapinha, em Salvador, vestido de Oxum, o orixá das águas doces da umbanda.

O vigário está fazendo de seu desligamento da Igreja um verdadeiro inferno na vida dos prelados. Para exorcizar de vez essa “entidade”, os líderes religiosos da arquidiocese de Salvador resolveram afastá-lo definitivamente das funções sacerdotais e ordenaram sua saída da casa paroquial, onde vivia há 30 anos. Por uma dessas ironias do destino, padre Pinto começou a juntar seus trapinhos em plena Sexta-Feira da Paixão. Na terça-feira 18, concluiu a mudança para uma mansão no bairro da Barra, onde recebeu abrigo para ficar como caseiro até dezembro, quando a casa deverá ser demolida. Como religiosos “demitidos” não recebem FGTS ou nenhum outro benefício, o padre saiu, como diz o dito popular, com uma mão na frente e a outra atrás. Nas ruas e becos da Terra de Todos os Santos, como é conhecida a capital soteropolitana, Pinto tem provocado reações díspares: idolatrado como revolucionário por uns e odiado como capeta por outros.

Interpretações à parte, o certo é que, depois da fama, o ex-padre vem vivendo na penúria. Sem seu salário de R$ 1,2 mil, ele sobrevive da ajuda de antigos seguidores. Para sair da quebradeira, o religioso promete lançar em breve alguns produtos com seu nome. Entre eles, um livro, uma grife e um filme. Na próxima semana, ele colocará à venda quase mil quadros de pinturas expressionistas de sua própria autoria. Mas erra quem pensa que o desligamento do vigário vai sair barato para a Igreja. Como criar polêmica é o seu forte, seu livro Confissões do Padre Pinto será nitroglicerina pura nos altares. “Vou contar o que acontece por trás da sacristia”, antecipou ele a ISTOÉ. Seu testemunho promete levantar poeira e desnudar o submundo da Igreja. José Pinto antecipa que crimes como a pedofilia praticada por religiosos, acobertados pelo manto sagrado, virão à tona numa linguagem popular descritos por quem serviu durante 30 anos aos mandamentos do catolicismo. Por causa de seus patrocinadores, antes de chegar às livrarias brasileiras, o livro será publicado na Itália e depois na Alemanha.

Enquanto isso, o ex-padre busca a salvação
terrena na criação de uma grife. Além de desenhar calças jeans, blusas e cangas com a marca PP,
que estarão à venda em lojas de Salvador, o padre
vai abrir uma galeria de arte na mansão que zela. “Ambiente não falta”, garante. O espaço Pinto entra
em funcionamento já neste mês, com instalações feitas pelo religioso, que também é formado em artes plásticas. “Como estou necessitado, venderei cada um de meus quadros por R$ 1 mil”, conta. Logo em seguida, ele lança o livro e sua coleção de moda. “Quem sabe, com a renda obtida, eu deixe de ser um sem-teto e sem-terra”, brinca padre Pinto.

A idéia de escrever casos de bastidores da igreja baiana, guardados como segredos de confessionário, tem tirado o sono dos antigos superiores do ex-padre, mas não o dele. Padre Pinto promete continuar defendendo o uso de preservativos, condenando o celibato e celebrando a vida.