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Na década de 1960 o mundo da arte recebeu um xeque-mate. Foi desafiado a questionar a galeria como espaço legitimador da obra de arte e a considerar a paisagem natural como seu ambiente ideal. A land art ou earth art – arte que realiza interferências diretas no meio ambiente, trazendo, muitas vezes, questões ligadas ao âmbito da ecologia – tem em artistas como Robert Smithson e Dennis Oppenheim dois grandes representantes. O diálogo entre eles, publicado em uma revista de 1970, serviu como ponto de partida para a mostra “Território de Caça”.

Na conversa em questão, Oppenheim é questionado se a land art seria uma proposta preocupada com a questão dialética entre o espaço interior (dentro da galeria) e o exterior (a paisagem, a natureza). “Não é bem uma questão de desativar o espaço da galeria como forma de contestação. É algo muito mais ligado à dissolução de limites e da noção do que vem a constituir a própria paisagem e como ela pode ser representada em diferentes contextos”, explica o curador Mario Gioia, que 40 anos depois procura dar sua própria resposta selecionando trabalhos de artistas contemporâneos brasileiros que reverberam as práticas da land art.

A mostra traz obras que vão desde o registro fotográfico das mudanças na paisagem até as instalações que transpõem para dentro do espaço expositivo fenômenos naturais como metáfora conceitual. O trabalho “Polarlicht”, de Estela Sokol, por exemplo, é um registro de suas intervenções com objetos e esculturas fosforescentes na neve dos Alpes austríacos.

Em “Peso Morto” (foto), o fotógrafo mineiro João Castilho cria pequenos montes de pedra em paisagens desérticas, que deslocam o olhar do observador de sua zona de conforto.

Porém, o grande mérito da curadoria está no resgate da intervenção “Formas Lúdicas no Espaço” realizada, entre 1979 e 1980 nos EUA e em Minas Gerais, pela artista Shirley Paes Leme. Na exposição encontra-se a documentação do projeto no qual brinquedos enormes, feitos de madeira, corda e sisal ocupavam uma área pública de 12 mil m² e eram experimentados por crianças e adultos. Nunca exposto antes, apesar de executado há 30 anos, o projeto de Shirley vem renovar a tradição deixada pela land art, presente na produção brasileira, que é de caráter processual e inesgotável.