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INSTANTÂNEO
Imagem mostra o resultado de um choque de prótons

A origem do Universo está muito perto de ser desvendada. Na semana passada, cientistas da Or­ganização Europeia para Pesquisas Nucleares (Cern) anunciaram a descoberta dos primeiros sinais da existência do bóson de Higgs, apelidado de “partícula de Deus”, por, teoricamente, conferir massa a todas as demais. Embora ainda precisem de mais dados – que prometem emergir em 2012 – os pesquisadores acreditam que estão próximos do que pode ser o maior achado científico dos últimos 100 anos, rivalizando apenas com a descoberta do DNA, há 60 anos.

O bóson de Higgs é considerado o elo perdido da física. Sua existência foi sugerida pela primeira vez em 1964 pelo britânico Peter Higgs. O físico, que não acredita na existência de Deus, decidiu investigar qual seria o fator que fez com que as diversas partículas dispersas no Universo se unissem e ganhassem massa. O Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) é o maior acelerador de partículas do mundo e foi construído, ao custo de US$ 8 bilhões, para testar, entre outras teorias, a formulada por Higgs (saiba mais no quadro).

“Estamos sendo cautelosos. Outras partículas foram anunciadas antes do tempo e depois se provaram inexistentes”, diz Sérgio F. Novaes, físico da Universidade Estadual Paulista (Unesp) que participa dos estudos realizados no LHC. “Ao mesmo tempo, não podemos deixar de evitar um certo entusiasmo, pois nunca chegamos tão perto do bóson de Higgs em 40 anos de estudos”, completa.

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ESFORÇO
Os pesquisadores Fabiola Gianotti, Guido Tonelli e Rolf Heuer na coletiva da terça-feira 13

O clima de otimismo surgiu depois que dois detectores do LHC, trabalhando de forma independente, obtiveram resultados muito parecidos. As equipes foram criadas há dois anos. Desde então, milhões de choques de prótons foram realizados e nenhum sinal do bóson apareceu. Em meados de 2010, porém, surgiram os primeiros indícios. Os dois grupos – que operam os detectores Atlas e CMS – decidiram não compartilhar seus dados e determinar um prazo aos testes para não influenciarem um ao outro. A corrida deu resultado. A conclusão é que há menos de uma chance em cinco mil de não estarmos diante da prova final da existência da “partícula de Deus”. Agora, eles buscam provar que a margem de erro é de um em 3,5 milhões – o que deve ocorrer em seis meses.

Se os cientistas não alcançarem o objetivo, um novo campo da física se abre e todas as teorias passarão por reavaliações. Caso a descoberta se confirme, uma das questões mais longevas da humanidade será resolvida e os cientistas envolvidos serão os mais fortes candidatos ao Nobel de física. Peter Higgs, hoje com 82 anos, é um deles. Só nos resta esperar pela solução do enigma.

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