As estatinas, uma eficiente classe de remédios campeã de vendas no mundo, estão entre as armas mais poderosas contra as doenças cardíacas. Indicado para controlar as taxas de colesterol, o remédio mostrou que pode ir além disso. Uma pesquisa apresentada no congresso do American College of Cardiology, uma das mais importantes entidades dedicadas ao estudo do coração, revelou que o uso diário dessa droga reduziu o depósito de gordura nas artérias. O acúmulo pode bloquear o fluxo de sangue nos vasos do coração e provocar um infarto.

A descoberta foi comemorada. “Quanto maior a diminuição das placas de gordura, menores os riscos de um problema cardíaco”, explica o cardiologista Raul dos Santos, do Instituto do Coração, em São Paulo. Já se suspeitava que o comprimido fosse capaz de reduzir a gordura nos vasos, fenômeno conhecido como aterosclerose, mas ainda não tinha surgido um trabalho de grande porte para comprovar a tese. Até que cientistas da Clínica Cleveland (EUA) resolveram estudar essa possibilidade. Eles acompanharam, por dois anos, 349 pacientes que não tinham sido submetidos a tratamento com estatina.

O remédio adotado foi a rosuvastatina (ou Crestor) na apresentação de 40 mg. Em geral, para se iniciar esse tipo de terapia, os médicos prescrevem comprimidos de 10 mg. Ou seja, os voluntários receberam doses potentes. Com a estratégia, os pacientes baixaram em 53%, em média, os níveis do mau colesterol, o LDL, elevaram em 15% a porção boa do colesterol (HDL) e diminuíram a formação de placas entre 7% e 9%. Para o chefe da equipe de pesquisadores, Steven Nissen, os resultados mostram que a intervenção tem potencial para se transformar numa medida efetiva contra a aterosclerose. “Se o colesterol ruim for reduzido nessas proporções e mantido assim por dois anos, e se for acompanhado de aumento do colesterol bom, é possível reverter parcialmente a doença coronária”, declarou.

Um ponto a ser considerado, porém, é a escolha do remédio. A rosuvastatina é uma das drogas mais potentes em sua categoria. Tanto que chegou a ser apelidada de superestatina. De fato, o estudo americano revelou os maiores índices de redução do LDL já vistos numa investigação científica. Isso não quer dizer, no entanto, que basta receitar ao doente uma dosagem alta desse gênero de remédio para trazer benefícios. Primeiro porque outras estatinas não foram avaliadas dessa forma. Segundo porque é sabido que esse tipo de medicamento pode causar uma alteração hepática ou gerar fraqueza muscular. Na pesquisa, esses problemas não foram verificados. De todo modo, os especialistas concordam que quanto mais baixo for o LDL, melhor. A redução também é obtida com dieta equilibrada e prática regular de exercícios.

Há mais uma boa novidade revelada no evento americano. Cientistas da Universidade Emory avaliaram 45 portadores de doença arterial periférica, caracterizada pelo bloqueio ou estreitamento das artérias das pernas, o que diminui o fluxo de sangue nos membros. Parte deles recebeu uma medicação com fator de crescimento para as células endoteliais, as que revestem vasos e artérias. A medida resultou no aumento dessas células, capazes de regenerar as estruturas danificadas e até gerar novos vasos. Ao final do estudo, que precisa ser confirmado por outros, os pacientes tiveram melhora da mobilidade. E não sentiram mais tantas dores nas pernas. Um belo progresso e, sem dúvida, um início animador.