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Jogares da Holanda e da Espanha dividem a bola na final da Copa de 2010

Atendendo a um pleito da Fifa, que tem contratos com cervejarias como patrocinadores oficiais da Copa de 2014, o deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator da Comissão Especial da Câmara dos Deputados que discute a Lei Geral da Copa, defendeu em seu relatório, que a venda e o consumo das bebidas deve ser liberada em bares e restaurantes montados em todos os eventos esportivos no Brasil, incluindo o Mundial. Atualmente, o Estatuto do Torcedor, de 2003, proíbe o acesso e a permanência de torcedores com bebidas de teor alcoólico em atividades esportivas. 

No início de novembro, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, esteve pessoalmente na Câmara dos Deputados e desafiou os parlamentares para que provassem que a comercialização de cerveja nas arenas pudesse aumentar os índices de violência entre torcedores nas partidas. O dirigente relembrou na ocasião que uma grande marca de cerveja é uma das principais patrocinadoras do Mundial e disse que a venda de álcool nos estádios não significava que a "Fifa está aqui para embebedar as pessoas". A polêmica discussão inclui representantes do primeiro escalão do governo federal. 

Ministro do Esporte é a favor

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), comparou nesta quarta-feira a venda de bebida alcoólica em eventos como o Carnaval com a possível comercialização de cerveja em estádios de futebol. Além disso, ele ironizou o fato de a liberação ou restrição à venda de bebidas ser determinada conforme a conveniência de autoridades privadas ou do governo ou de acordo com a pressão de corporações.

"Daqui a pouco, pela marcha da posição de certas corporações, vamos terminar banindo a bebida alcoólica do carnaval. Não duvido que se marche por esse caminho. Durante partida de futebol não pode ter bebida e durante o show da Madonna pode ter? É preciso que se decida. É preciso que se pondere. É preciso que esses critérios sejam balizados com equilíbrio. Não estou aqui defendendo nenhuma opinião porque não sou especialista nem na área de segurança pública, nem de saúde pública nem de lazer. É preciso que o Congresso Nacional, que tem capacidade de representar e acolher as diversas preocupações da sociedade, leve em conta essas questões, e não apenas porque haveria uma disputa, natural do capitalismo, entre patrocinadores e promotores", defendeu Aldo Rebelo.

"Não julgo que o problema da bebida é o problema central na Copa do Mundo. O que mais me preocupa é a forma como o Estado brasileiro vai tratando essas coisas. Quando a lei começa a querer disciplinar hábitos e costumes não é uma coisa fácil. O vinho é uma herança dos gregos. É preciso compatibilizar direitos, tradição e cultura", disse o ministro, que participa de debate na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados, em Brasília.

O ministro disse ainda acreditar que, do ponto de vista da segurança, é mais difícil conter os efeitos de pessoas alcoolizadas nas festas carnavalescas do que em partidas como as da Copa do Mundo de 2014. "Não é um tema muito fácil de oferecer uma opinião conclusiva sobre a venda de álcool porque talvez, do ponto de vista de disciplina, em eventos mais espontâneos e menos contidos que jogos de futebol, como carnaval, ninguém concebe fazer restrição de álcool. Do ponto de vista do controle da segurança pública, é mais difícil fazer o controle no carnaval do que em uma partida de futebol", opinou o ministro.

"O melhor é se agir com moderação, prudência. Ninguém concebe a proibição do consumo de bebidas alcoólica no País. Consumir bebida alcoólica, por princípio, não é crime", comentou o chefe da pasta do Esporte aos parlamentares. 

Ministro da Saúde é contra

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que é contra a comercialização de bebidas alcoólicas em estádios durante a Copa do Mundo de 2014. Ele participou nesta quarta-feira (7) de audiência pública com a Comissão Especial sobre o Consumo de Bebidas Alcoólicas na Câmara dos Deputados.

Para o ministro, o Brasil precisa resistir à solicitação de exceção à venda durante a competição pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), já que um dos patrocinadores do evento é uma cervejaria. Durante a audiência também foi abordada a revisão da Lei Seca no país. Padilha apresentou dados de um levantamento do ministério que apontam o crescimento do consumo excessivo de bebidas alcoólicas entre os jovens e as mulheres. Segundo ele, o uso abusivo de álcool é o grande vilão da saúde brasileira.

Sobre a Lei Seca, Padilha disse que o Congresso Nacional pode ajudar no combate à violência no trânsito com o aperfeiçoamento da lei, aumentando a punição para motoristas embriagados. Segundo ele, é preciso inverter o ônus da prova de embriaguez. “O motorista é que deve ter a obrigação de provar que está em condições de guiar e não o contrário”.

A audiência foi solicitada pelo relator da comissão, o deputado federal Vanderlei Macris (PSDB-SP). O objetivo da comissão é analisar as causas do aumento do consumo de álcool nos últimos anos e propor políticas públicas de prevenção e combate ao alcoolismo.