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ACHAQUE
O assessor do Ministério do Trabalho, Eudes Carneiro cobrou,
segundo o sindicalista, R$ 1 milhão para emitir carta sindical

Nas duas últimas semanas, a Polícia Federal realizou uma devassa em computadores e arquivos de funcionários do Ministério do Trabalho. Estão sendo investigadas as vendas de cartas sindicais, denunciadas por ISTOÉ desde o início de agosto. Ao olhar com lupa as negociatas dentro do gabinete da Secretaria de Relações do Trabalho, importante órgão do ministério comandado por Carlos Lupi, a PF identificou, dentre os principais suspeitos, um delegado aposentado da própria PF. Trata-se de Eudes da Silva Carneiro, lotado como assessor da secretária de Relações do Trabalho, Zilmara Costa. Ele chegou ao cargo pelas mãos do ex-secretário Luiz Antonio de Medeiros e continua operando sob suas ordens. Um importante depoimento que a PF pretende colher nos próximos dias é o do sindicalista Irmar Batista, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo (Sirvesp). Ele acusa o ex-policial Eudes Carneiro de cobrar para conceder o registro sindical de sua entidade. “O Eudes me disse: ‘Você sabe como as coisas funcionam aqui, né?’ Falou que precisava do dinheiro para a equipe e me pediu R$ 1 milhão”, afirma. O encontro teria ocorrido em outubro de 2008 na sala de reuniões da Secretaria de Relações do Trabalho e em circunstâncias bem semelhantes às denunciadas pelo sindicalista João Carlos Cortez, na edição de 23 de novembro de ISTOÉ. “O Eudes pegava o dinheiro e distribuía. É o homem da mala”, diz Irmar Batista.

O sindicalista conta que participaram do encontro o deputado federal Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP) e o chefe de gabinete do vereador Adilson Amadeu (PTB-SP), Luiz Carlos Gutierrez, conhecido como Licá. Foi o gabinete do Amadeu que pagou a viagem. Segundo Irmar Batista, Licá teria sugerido que o dinheiro – R$ 1 milhão – fosse pago por meio de seu escritório de advocacia. “O Gutierrez disse que o pagamento poderia ser feito em repasses da contribuição sindical, mas eu recusei”, diz o sindicalista. Licá nega a proposta, mas admite que acompanhou Irmar Batista na reunião. “Não lembro do conteúdo da reunião, mas, se tivesse havido uma proposta dessa, eu lembraria”, afirmou à ISTOÉ. Segundo ele, depois da conversa com Eudes não teria havido novos contatos. Batista ainda tentou conseguir a carta sindical pelos meios legais. Zilmara Costa, que assumiu o cargo depois de Medeiros, determinou uma composição com outros sindicatos metalúrgicos que haviam impugnado seu registro. “Eu achei que tudo daria certo, mas no fim do ano passado mandaram arquivar meu pedido. Isso aconteceu porque me recusei a pagar a propina”, afirma Batista.

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"O Eudes pegava o dinheiro e distribuía. É o homem da mala"
Irmar Batista, presidente do Sindicato dos Trabalhadores
nas Indústrias de Reparação de Veículos de São Paulo

Entre fevereiro e março deste ano, o presidente do Sirvesp, Irmar Batista, denunciou o caso à AGU e à Ouvidoria do Servidor Público, mas não obteve respostas. Seu relato, até então só conhecido das autoridades, encaixa-se com o de João Carlos Cortez e de outros sindicalistas que estão sendo ouvidos pela PF. Questionado pela reportagem, Medeiros rebateu a acusação e defendeu Carneiro. “É um sujeito íntegro, nunca faria uma coisa dessas”, disse. A defesa enfática do delegado é explicável. O ex-secretário, que hoje está lotado na Secretaria Municipal do Trabalho de São Paulo, conhece o Carneiro desde a época de parlamentar, chegando a contratá-lo como assessor de gabinete na liderança do extinto PL. No ministério desde 2007, o policial foi designado gestor financeiro, ficando responsável pela execução orçamentária, financeira e patrimonial da Secretaria de Relações do Trabalho.