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CONTRAINFORMAÇÃO
Garotinho, segundo as investigações, seria o líder do
grupo interessado em produzir notícias contra Beltrame

Um relatório reservado da Agência Central de Inteligência da polícia do Rio de Janeiro informa que no Estado há um grupo formado por políticos e delegados interessado em boicotar o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). No documento que contém o carimbo de “urgentíssimo” e recebe o número 463/11-0007/S12, os agentes da Central de Inteligência relatam que o principal objetivo do grupo seria desgastar publicamente a imagem do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e provocar a exoneração de toda a cúpula da Secretaria de Segurança Pública para colocar nos cargos disponíveis pessoas que possam “vir a atender interesses escusos e particulares de seus membros”. Assinado em 28 de setembro, o relatório é parte de uma investigação ainda em curso, mas que já detectou como membros do grupo o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), ex-governador e ex-secretário de Segurança; e os antigos chefes da Polícia Civil Álvaro lins e Ricardo Hallak. Segundo as investigações, o grupo força a divulgação de notícias negativas e chega a fabricar fatos para provocar um noticiário contra o secretário e seus principais auxiliares.

Para chegar às conclusões apresentadas no relatório preliminar, os agentes da Central de Inteligência acompanharam as investigações e a divulgação de diversos casos policiais e até processos judiciais. Um dos primeiros movimentos a des­pertar a atenção dos policiais foi a greve dos bombeiros de junho último. De acordo com as informações do serviço reservado da Polícia Militar, o movimento salarial foi apenas o pano de fundo para uma operação política liderada pelo cabo Daciolo, ligado ao ex-governador Garotinho, e que levou os bombeiros a uma mobilização contra o governo estadual. Na ocasião, a população manifestou apoio aos grevistas, mas o movimento perdeu credibilidade quando coordenou a distribuição de adesivos na zona sul do Rio com os dizeres “Fora Ca­bral”, numa alusão ao governador Sérgio Cabral.

Um dos processos judiciais analisados pela Central de Inteligência diz respeito ao salário de Beltrame. Mensalmente, ele recebe R$ 12,9 mil como secretário e mais R$ 24,4 mil como delegado da PF, o que soma um valor superior ao teto do funcionalismo fixado em R$ 26,7 mil. Documentos anexados ao processo, no entanto, mostram que antes de assumir o cargo, o secretário consultou a Procuradoria-Geral do Estado, que lhe deu parecer apontando a situação como regular. De acordo com os procuradores, o teto salarial deve ser aplicado a cada salário e não à soma deles, ainda mais quando se trata de diferentes fontes pagadoras, no caso o governo estadual e o governo federal. Apesar do posicionamento da Procuradoria-Geral, foi dada entrada em uma ação popular na Justiça contra o secretário. Segundo os relatos da Central de Inteligência, o objetivo real do processo não é a condenação de Beltrame, mas o noticiário negativo que ele provoca. O autor do processo é o advogado Carlos Fernando dos Santos Azeredo, um policial civil aposentado ligado ao grupo político de Garotinho. Ele também é advogado de Álvaro Lins e de Ricardo Hallak em diversos processos. Azeredo nega o interesse político na ação, mas admite que só entrou com o processo depois de ler sobre o salário de Beltrame no blog de Garotinho. “Isso (a investigação da Central de Inteligência) é delírio ou uma tentativa do secretário Beltrame de desviar a atenção da opinião pública de um caso que está na iminência de explodir”, disse o deputado Garotinho na quinta-feira 3.

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AMIGO
Advogado de Lins processa Beltrame

O grupo que conspira contra o secretário também teria atuado na investigação sobre o sequestro e assassinato de Israel Ferreira de Miranda, em 16 de agosto do ano passado. Em 17 de maio último, a ex-companheira de Israel, Eliane Crisostomo Costa, foi à Comissão de Assuntos de Polícia da Assembleia Legislativa e prestou um depoimento bombástico. Disse que Israel era informante da polícia e que sua função seria a de “descobrir possíveis crimes e criminosos para serem extorquidos pelos policiais”. Ela ainda afirmou que Israel participava das extorsões com agentes e delegados da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) e citou o nome dos policiais Correa, Fraga e Guehard, que seriam ligados ao secretário Beltrame. Para provar o que dizia, entregou uma cópia de uma escritura de cessão de direitos sobre um apartamento na Barra da Tijuca em favor de Israel. O apartamento, segundo Eliana, seria um pagamento de propina a seu ex-companheiro e a policiais da Draco. No mesmo depoimento, ela disse que pedia “socorro” aos deputados “por convicção pessoal de que policiais civis têm motivos para me matar e que a Draco está diretamente ligada ao secretário Beltrame, que protege os policiais que estariam envolvidos na morte de Israel”.

Por determinação do secretário, o caso está sob investigação da Corregedoria com acompanhamento da Agência Central de Inteligência. Durante as investigações, foi apurado que o documento do apartamento não tem valor legal e que o depoimento de Eliana na Assembleia era parte de uma trama conspiratória. Em 29 de agosto, na Comissão Permanente de Inquérito Administrativo, a mesma Eliana negou o que dissera anteriormente. Afirmou que Israel jamais fora informante e que desconhecia relações do ex-companheiro com policiais da Draco. Disse que mentiu porque ela e o filho foram ameaçados de morte por um tal de Aloísio. Esse mesmo Aloísio, segundo Eliana, é que lhe fornecera um roteiro com tudo o que deveria dizer e os nomes dos policiais mencionados.

As investigações ainda estão em andamento, mas os agentes da Inteligência já têm indícios de que Aloísio é um ex-policial ligado ao delegado Álvaro Lins. O relatório a que ISTOÉ teve acesso mostra que enquanto as UPPs avançam pelas comunidades carentes do Rio, um grupo de policiais e políticos estão de fato mais interessados em contrainformações. Os interesses certamente não são os mais nobres.

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