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Desde que Sigmund Freud apresentou à sociedade a psicanálise e que o feminismo ganhou força no século XX, o mundo do trabalho ficou cada vez mais afetivo. Em contrapartida, os afetos ficaram cada vez mais pragmáticos e mercantilizados. A tese da socióloga franco-marroquina Eva Illouz, professora na Universidade Hebraica de Jerusalém, defendida no livro “O Amor nos Tempos do Capitalismo” (Zahar), encontra eco em um movimento que cresce no Brasil: o dos profissionais do amor com nomes e métodos do mundo corporativo. É o caso da hearthunter Eliete Matielo. A exemplo do headhunter, que busca os profissionais mais tarimbados do mercado a pedido das empresas, a “caçadora de coração” se esforça para achar o par mais que perfeito para quem a contrata. Sua clientela é formada em sua maioria por homens, executivos apressados que não têm muito tempo para circular, paquerar e, por ventura, achar a mulher certa. “Se não tenho a pessoa ideal no meu cadastro, não meço esforços para encontrá-la”, conta Eliete. “Deixo meu cartão com possíveis aliados como cabeleireiros, manicures e vendedores de loja.”

No vocabulário de Eliete não faltam os jargões do mundo do trabalho: assertividade, otimização, estratégias e diferencial. Além disso, pragmatismo é o lema. “Sou extremamente prática. Se um homem barrigudo me pede uma deusa magérrima, peço que ele primeiro vá cuidar de sua aparência”, conta, lembrando que nem sempre o dinheiro compra tudo. Os valores pagos por seus clientes, aliás, são altos. Para fazer a assessoria pessoal e achar as melhores candidatas, Eliete cobra entre R$ 5 mil e R$ 8 mil. “Quanto custa um grande amor?”, argumenta um de seus clientes, Cláudio Silveira, 62 anos, industrial do Paraná. “Não tem preço!” Para o paranaense, que já foi casado durante 15 anos, é ingênuo achar que um grande amor vai aparecer ao acaso, numa batida de carro, num flerte de restaurante ou na fila de um cinema. “É o método mais moderno e veio para ficar”, acredita Claudio, que, tal como uma empresa em busca de seu funcionário mais qualificado, pediu à Eliete uma mulher com mais de 45 anos, magra e, de preferência, de seu Estado.

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Outra frente que começa a crescer no mercado do amor é a do coach afetivo. É mais utilizado por quem já está em um relacionamento. Usando a técnica do coaching, outro recurso emprestado do mundo profissional, o coach busca trabalhar durante um tempo delimitado os principais problemas da relação. O cliente, e não paciente, tem metas a cumprir. Em Campinas (SP), no escritório de Patrícia Camargo, aparecem mulheres com queixas variadas – da que não consegue engravidar à infeliz no matrimônio, mas que não quer se separar. “Eu atuo como uma facilitadora que orienta o cliente a perceber seus padrões de comportamento e, assim, atingir seus objetivos”, sintetiza Patrícia, que migrou da área administrativa para a afetiva, o que a ajudou ao optar por um atendimento de viés prático. Como define Eva Illouz em seu livro, vivemos o auge do capitalismo afetivo.


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