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DIFICULDADE
Karina (de verde) realiza atendimento em montanha dos Estados Unidos

A resistência de esportistas e aventureiros que enfrentam os limites do corpo, submetendo-se a altas temperaturas ou diferentes pressões, por exemplo, impressionam. Mas, graças a médicos dedicados a investigar como o organismo responde a condições extremas – e a socorrer em situações adversas –, ficará mais fácil compreender o que acontece. Trata-se de uma área da medicina conhecida como medicina extrema, na tradução do termo em inglês “extreme medicine”. Ávidos por desvendar quanto o corpo pode aguentar, os profissionais pesquisam e atendem não somente em laboratórios ou hospitais. O trabalho de campo, essencial nesse tipo de estudo, acontece no topo de uma montanha, em uma viagem de mergulho ou em câmaras que simulam a microgravidade do espaço. “O que limita a performance física sob condições incomuns tem sido o interesse dessa área”, explicou à ISTOÉ Bruce Johnson, especialista no assunto, da Clínica de Medicina Mayo, nos Estados Unidos.

O pioneiro Centro de Microgravidade da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul é um expoente da pesquisa relacionada à Medicina Extrema no Brasil. Formado por sete laboratórios, o local foi idealizado e é coordenado pela especialista em medicina aeroespacial Thais Russomano. Apaixonada por astronomia desde criança, Thais formou-se em medicina, mas uniu as duas paixões especializando-se em medicina espacial nos EUA pela Wright State University. Hoje, pesquisa o treinamento e a manutenção da saúde dos aeronautas em missão espacial e sua readaptação física, mental, social e familiar no retorno à Terra.

As contribuições dos estudos nessa área para a saúde são várias. “Entre elas, estão as cadeiras para tetraplégicos comandadas pelo movimento do queixo”, explica Thais. “Na Lua, os astronautas usavam esse tipo de controle para conduzir os veículos lunares e ficar com as mãos livres para coletar rochas.” Outros resultados das pesquisas foram a miniaturização de aparelhos médicos (no espaço, tinham de ser leves e portáteis) e tênis esportivos com boa absorção de choque (tecnologia desenvolvida primeiro para as botas dos astronautas).

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GRAVIDADE
Cientista da PUC-RS avalia condições de equilíbrio

Vários médicos especializados são ex-atletas que decidiram continuar a trabalhar com grupos de elite. Johnson, da Clínica Mayo, por exemplo, é ex-remador e esquiador. Entre seus estudos, alguns realizados na Antártica, estão pesquisas sobre a melhor intensidade de treino para atletas com base nas trocas metabólicas de gás. A expedição mais recente foi ao Aconcágua, na Argentina. O objetivo era verificar a velocidade com que os alpinistas subiam a montanha e como eles se adaptavam a altitudes crescentes. “Muitas pessoas passam mal em altitude elevada. Estamos interessados em medidas preventivas que reduzem a suscetibilidade a isso”, diz.

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Outra área da medicina extrema é o tratamento em condições difíceis. Existe apenas uma brasileira credenciada pela organização que regula essa especialidade, a americana Wilderness Medical Society, a paulista Karina Oilani, 29 anos, médica, instrutora de mergulho, corredora e especializada em medicina de montanha. “Para acompanhar uma equipe no Everest, por exemplo, você tem que ter conhecimento de escaladas”, diz. “Caso contrário, vira mais uma vítima da montanha.” Saber montar um kit de socorro específico para o ambiente que vai enfrentar também é fundamental. Quando sobe a montanha, Karina leva apenas seringas e remédios. “Se for um local com mais estrutura, podemos levar um estetoscópio, um desfribilador, por exemplo”, conta. 

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